O que aconteceu na Bolívia quando o Ministério Público poupou um golpista. Por Moisés Mendes

Atualizado em 10 de novembro de 2022 às 21:45
Luis Arce fala sobre os dois anos de governo em pronunciamento na TV. Foto: Reprodução

Por Moisés Mendes

Os bolivianos pararam essa semana, onde estivessem, para ver na TV e em telões nas ruas a fala do presidente Luis Arce sobre os dois anos de governo. E Arce disse que há de novo uma ameaça de golpe na Bolívia.

A lição que vem de lá deve ser observada pelos que temem um tratamento cordial do Ministério Público e do Judiciário para Bolsonaro, os filhos e os cúmplices dos seus crimes.

Na Bolívia, líderes civis e militares do golpe de 2019 foram presos preventivamente, um ano depois, e a maioria já foi julgada e condenada.

Mas um escapou da prisão e de julgamento. É o fascista Luis Fernando Camacho, o Bolsonaro deles, o principal líder civil do golpe.

Camacho elegeu-se governador de Santa Cruz de la Sierra, obteve imunidade política e faz hoje o que todos previam. Lidera tentativas permanentes de golpe contra o governo de Arce (foto).

O mais importante líder civil do golpe que derrubou Evo Morales é o único sem farda que continua impune, talvez por barbeiragens ou temor do Ministério Público, e trabalha para derrubar o presidente eleito em 2020.

É mais uma lição da impunidade. Um golpista impune será sempre um golpista ativo.

O golpe é armado agora por causa do adiamento do censo pelo governo de 2023 para 2024, com pretextos técnicos de que não há como realizar o trabalho no ano que vem.

A oposição diz que é um truque para que, com o aumento da população, que seria mostrado no censo, Santa Cruz não tenha mais representantes no Congresso.

Significa mais deputados e senadores contra o Movimento ao Socialismo, de Evo e Arce. Como as eleições acontecem 2024, não haveria tempo para fazer valer a tese de aumento da representação.

Há poucos dias, com greves em Santa Cruz, Camacho gritando e gente nas ruas, e desconfiado de seus comandantes, Arce nomeou o general Hugo Eduardo Arandia como comandante-em-chefe.

E trocou todos os comandantes. O contra-almirante Gonzalo Brigadiel assumiu como chefe do Estado-Maior, Marcelo Zegarra como chefe da Aeronáutica, Juan Arnéz, da Marinha, e Juan José Zuñiga, do Exército.

Em dois anos de governo, essa é a terceira troca de comando nas três armas, o que significa que Arce não confia nos seus militares.

E Lula confiará em quem? Já se fala aqui que o ministro da Defesa de Lula poderá ser de novo o civil Nelson Jobim, que já ocupou o cargo de 2007 a 2011, também com Lula.

Sempre lembrando que Aldo Rebello, que foi foi comunista, ocupou o Ministério da Defesa. E que José Genoíno, que foi guerrilheiro, já atuou como assessor especial do então ministro da Defesa Celso Amorim.

Publicado originalmente no blog do autor

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