O mundo político vai girar em torno dos três em 2014.
As ruas disseram, em junho, que queriam mais justiça social e menos politicagem em que velhos personagens estão sempre em cena com alianças que perpetuam privilégios e impedem reais avanços sociais.
Ninguém aguenta mais figuras como Maluf, Sarney, Renan em posição de influência por oferecer algum tipo de apoio ao governo.
Não existe almoço grátis e nem apoio grátis.
E os brasileiros disseram não querer mais pagar um preço por um apoio conservador e fisiológico que parecia interessante apenas ao governo.
E agora, em julho, as ruas voltaram a dar uma mensagem, na forma de uma pesquisa do Ibope que acaba de sair.
Esta pesquisa ouviu pessoas em julho. Representa, portanto, um passo adiante em relação a um levantamento anterior do Datafolha, feito no calor dos protestos.
Basicamente, o que está sendo dito é:
1) Temos sérias dúvidas sobre Dilma.
2) Estamos olhando com renovado interesse para Marina.
3) Gostamos muito da ideia de voltar a chamar Lula de presidente.
Outras interpretações são pessoais e intransferíveis. Serra, por exemplo, parece acreditar que o novo quadro dá a ele chances de ser, enfim, presidente.
Mas para isso cabe o clássico de Wellington: quem acredita nisso acredita em tudo.
Das três mensagens, uma é mais fácil de ver onde levará: Marina é um nome forte para 2014.
Seu trunfo é não ter vínculos com a política que está aí, e que foi tão rechaçada nos protestos de junho.
Marina acabou preservada quando toda a classe política recebeu um sensacional voto de desconfiança.
Numa análise sociológica das manifestações, FHC disse que nenhum político se beneficiaria, uma vez que o repúdio era à classe.
Outros estudiosos disseram o mesmo, mas se enganaram: Marina ganhou em prestígio.
Ela sofre uma completa rejeição apenas num grupo de eleitores – os de Dilma. Mas isso jamais foi novidade.
Marina, se for hábil, pode se apresentar em 2014 como o Beppe Grillo brasileiro, o comediante que rejeitou a política convencional e foi uma sensação nas eleições parlamentares italianas com um partido recém-nascido, como a Rede.
Os ventos soprarão favoravelmente para Marina nos próximos meses.
E para Dilma?
Prognósticos, agora, são complicados. Dilma parece aquele caso de um lutador invicto que perde uma luta por nocaute. Ninguém sabe como ele se comportará depois do tombo.
Do ponto de vista simbólico, o nocaute de Dilma foram as vaias na Copa das Confederações, uma das imagens políticas mais fortes de 2013.
Ela tem que recuperar a aura perdida para chegar a 2014 com chances. Mas vai conseguir?
Notícias ruins chegam em grupo, como se sabe. E a economia vacilante não parece ajudar muito Dilma no esforço de recuperação.
Ela tem algum tempo para se recompor, mas não muito.
E então chegamos ao enigma Lula.
Numa frase famosa, o general João Figueiredo disse o seguinte quando se soube que o presidente Geisel o queria como sucessor: “Convidado, recuso. Convocado, aceito.”
Lula está mais ou menos nesta situação. Se as ruas o convidarem, ele tenderá a dizer não.
Mas se elas o convocarem – e as futuras pesquisas serão cruciais para saber isso – a resposta muito provavelmente será sim.