Moradores de Maceió e cidades próximas seguem com temor por conta dos novos tremores sentidos na região, em uma área que vem causando preocupação há pelo menos cinco anos. Nesta sexta-feira (1), a Defesa Civil afirmou que “o desastre está em evolução”. Segundo o órgão, a região passa por um risco iminente de colapso.
Desde 2018, a população da capital vem vivendo momento de “terror”, segundo relatos de moradores, por conta das consequências da atividade de mineração da Braskem em bairros da capital alagoana, a cada ano, aumenta o número de bairros e famílias diretamente impactadas – cerca de 60 mil pessoas tiveram de deixar suas casas.
Enquanto famílias realizam protestos na cidade, representantes da Braskem estão no Dubai participando da COP28, a Conferência Internacional da ONU sobre as Mudanças Climáticas. A empresa foi ao encontro para divulgar ações ambientais realizadas pelo grupo. petroquímica está no pavilhão brasileiro ao lado de Vale, Petrobras e Syngenta.
Em conversa com o Brasil de Fato, o professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Aderson Nascimento, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geofísica, afirmou que pode ocorrer um “colapso catastrófico na região”, com a abertura de uma cratera de “vários metros de profundidade”.
“Em alguns casos pode ter o colapso catastrófico, que é cair tudo de uma vez, colapsar algumas dezenas de metros. Não podemos saber se é o caso de lá, mas os avisos da Defesa Civil dão conta disso; e a literatura diz o mesmo”, afirmou Nascimento, especialista em sismicidade antropogênica, que estuda, justamente, evento geológicos não naturais. De acordo com ele, mais de 1200 colapsos já foram causados por ação humana na história do planeta.
O problema começou em 2018, quando começaram a ser sentidos os efeitos da extração de sal-gema (que pode ser usado em cozinha e para produção de produtos como plástico do tipo PVC e soda cáustica). Cinco bairros da capital alagoana tiveram afundamento de solo devido à extração do mineral, que é formado no subsolo, a cerca de mil metros da superfície.
Apesar de não ter havido mortes diretas, cerca de 60 mil pessoas tiveram de ser removidas de suas casas devido aos riscos de desabamentos. Muitas construções foram demolidas. Estudos apontam que o caso é a maior tragédia socioambiental em zona urbana no mundo.
Nesta sexta-feira (1), o coordenador da Defesa Civil de Alagoas, coronel Moisés, afirmou que não há risco de um possível colapso na mina 18, afetar os municípios de Pilar, Coqueiro Seco e Santa Luzia do Norte, vizinhos do local atingido.
O professor Nascimento explica que está acontecendo uma expansão de cavernas de sal formadas quilômetros abaixo da terra, tudo efeito da atividade da Braskem na região.
A empresa realizou o processo de dissolução do sal. “Você insere água quente para diluir o sal e embaixo fica uma caverna cheia de sal hipersalino, ou seja, muito concentrada. Como o sal tem uma solubilidade máxima na água, esta caverna para de crescer. Mas, se tiver entrada de água na terra por algum problema, alguma falha, aí acontece um crescimento não controlado dessas minas.
“Quando isso acontece, lá embaixo, é como se você tivesse um queijo suiço e ele começa a ceder debaixo para cima”, explica o professor.
A escavação para exploração das jazidas de sal-gema pela Braskem na capital alagoana durou cerca de 40 anos. O afundamento aconteceu pois a região tem uma falha tectônica. A consequência foi o afundamento do solo nos bairros de Bebedouro, Bom Parto, Farol, Mutange e Pinheiro, além da localidade de Flexal.
Em nota, enviada à Agência Brasil, a Braskem disse que monitora a situação da mina e, desde a última terça-feira (28), isolou a área de serviço da empresa, onde são executados os trabalhos de preenchimento dos poços. “Os dados atuais de monitoramento demonstram que o movimento do solo permanece concentrado na área dessa mina”, informou.
Originalmente publicado em Brasil de Fato
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