O que esperar de um governo Maia? Por Mauro Donato

Atualizado em 7 de julho de 2017 às 16:56

 

Maia

Segundo o senador tucano Cassio Cunha Lima, em 15 dias teremos um novo presidente da República. Foi o que ele declarou ontem a um grupo de investidores.

As gentes do dinheiro ficaram satisfeitas. Afinal, os Maias sempre mantiveram uma estrutura social rígida.

Já no século IV a.C. os Maias, civilização pré-colombiana, estabeleciam a organização da sociedade em camadas, com formato piramidal. Três camadas apenas, sendo a base composta pelos trabalhadores, que foram designados como os pagadores dos impostos que sustentariam as camadas de cima.

O império Maia era considerado um representante dos deuses (que nos tempos atuais ganharam a esfinge de um pato amarelo) e habitualmente realizavam sessões de sacrifício humano. Obviamente que os sacrificados eram invariavelmente pertencentes às camadas menos privilegiadas. Os investidores, portanto, não terão surpresas.

Rodrigo Maia, presidente da Câmara e primeiro na linha sucessória do Palácio do Planalto, não pretende quebrar uma tradição milenar de seu povo.

Habitantes de uma área que abrangia desde onde hoje é o México até Honduras e Guatemala, os Maias no entanto nunca chegaram a formar um império unificado.

Não será diferente agora, uma vez que Rodrigo Maia não é nada além de um novo Michel Temer. A bola estratégica da vez para atender as reformas exigidas pelo empresariado que Temer não tem mais apoio para aprovar.

Rodrigo Maia é um Maia moderno. Seus ancestrais capturavam os guerreiros de tribos rivais e os levavam para o sacrifício nas pirâmides. “Não quero fazer com Temer o que ele fez com Dilma”, disse o descendente Maia do século XXI.

Politicamente correto, não diz que está querendo a cabeça de Temer mas declara que “a situação é insustentável”. No fundo, adoraria poder ordenar aos gritos de “Guardas, prendam-no! Levem-no para a masmorra!”

Unanimidade entre historiadores, antropólogos e paleontólogos, os Maias eram altamente avançados em matemática e credita-se a eles a invenção das casas decimais e do valor zero. Com a popularidade de Michel Temer próxima do valor descoberto por seus antepassados, Rodrigo Maia utilizou-se de outra habilidade intrínseca a seu povo.

Os Maias dominavam o saber astronômico. Sendo assim, a conjunção astral bem interpretada fez com que seu aliado Sergio Zveiter (aquele deputado apresentado ao mundo nos últimos dias como um ‘peemedebista independente’) fosse designado como relator da denúncia de Rodrigo Janot contra Temer. Foi uma conspiração cósmica, nada além disso e Maia compreendeu ter chegado a hora.

Maia, o Rodrigo, há tempos faz parte do topo da pirâmide mas hoje deseja estar no cume. Fincar a bandeira do DEM e satisfazer as vontades do empresariado. Com Temer afastado, ele passa a ter 180 dias para tanto e assim reivindicar o trono (indiretamente, sem eleições populares).

Em sua conta no Twitter, Rodrigo Maia tem postado o seguinte: “Não podemos estar satisfeitos apenas com a reforma trabalhista. Temos a Previdência, a Tributária e mudanças na legislação pública” ; “Temos que estabelecer o mais rápido possível a agenda na Câmara. Precisamos ajudar o Brasil a sair da crise”. Postagem de presidente ou não?

Enfim, nada de novo na troca de comando. O que os golpistas esperavam de Temer, cobrarão de Rodrigo Maia. E assim segue a história. O calendário Maia, segundo estudiosos, foi mal interpretado e não terminava em 21 de dezembro de 2012.

De fato, naquele dia o mundo não acabou. Se acabará em 2018, os novos Maias não parecem dispostos a nos avisar. Ainda que tudo indique.