O que financia o tráfico é a hipocrisia, Raul Jungmann. Por Jean Wyllys

Atualizado em 4 de março de 2018 às 21:03
Alexandre de Moraes erradicando a maconha na América do Sul

Publicado no Facebook de Jean Wyllys

No seu discurso de posse no Ministério Extraordinário de Segurança Pública – que é a mais nova jogada de Temer para desviar o foco da impopularidade recorde do seu governo e do inquérito que o investiga por corrupção – Raul Jungmann, do PPS, este político versátil que já foi presidente do IBAMA, conselheiro da Light, conselheiro da Companhia de Engenharia de Tráfico de São Paulo e ministro do Desenvolvimento Agrário e até da Defesa, afirmou que o problema da violência no Rio seria que “durante o dia os fluminenses pedem segurança e à noite, consomem droga”.

Isto é pura demagogia barata. As populações usam drogas em todos os países do mundo, adotem eles políticas irracionais de combate ao tráfico, como é o caso da legislação brasileira que o define como crime hediondo e passível de até 27 anos de cadeia, ou não.

E não consta que no Rio de Janeiro haja surto especial de consumo de droga que justifique o suficiente a crise instalada na cidade que foi palco da última Olimpíada ao custo de mais de 40 bilhões de reais, e que até hoje só garantiu acesso à rede de esgoto para aproximadamente a metade das pessoas.

Ao ignorar causas reais para criminalidade, como o colapso nas contas públicas na gestão do PMDB, o caos instalado pela paralisia de serviços públicos essenciais e o desemprego elevadíssimo, e culpar o consumo de drogas, Jungmann tenta colorir o cenário de bandalheira que Sérgio Cabral, Eduardo Paes, Picciani & Cia deixaram para população pagar.

Em vários países, como Uruguai, Portugal e mais de vinte estados dos EUA (curiosamente, o país que iniciou a chamada guerra às drogas), estão em vigor leis que regulamentam o comércio de drogas, e os resultados são inquestionáveis quedas nos índices de criminalidade e uma melhora sensível na saúde de usuários e dependentes.

Há uma matemática que Jungmann não pode transformar com bravatas.

A verdade é que há atualmente menos crimes e mortes nos locais onde a legalização foi testada do que havia antes. A imensa maioria dos estudos sobre segurança levam a crer que a proibição gera mais violência que o próprio tráfico.

Então, por que mentir deliberadamente em um momento tão difícil? Por que fazer de conta que há soluções fáceis? Apresentei um projeto sobre a lei de drogas – PL 7270\2014 – que dorme nas gavetas da Câmara enquanto Jungmann finge que ‘baseados’ estão fomentando a delinquência nas favelas do Rio de Janeiro.

Serviço melhor para nação o ministro faria se, por exemplo, olhasse para dentro do seu próprio partido, e os motivos que o levaram a fazer parte da coligação “Somos um Rio”, de Eduardo Paes e Sérgio Cabral na prefeitura da cidade. Certamente encontraria adversário mais útil de ser enfrentado na questão da redução de criminalidade.