O que foi mais repulsivo na fala de Cunha: o choro, o vitimismo ou as menções a Deus? Por Paulo Nogueira

Atualizado em 7 de julho de 2016 às 16:59
Tem que ser preso
Tem que ser preso

Não há razões para comemorar a renúncia de Eduardo Cunha. Ele tinha que estar preso há muito tempo.

Ele é um insulto a todos nós. Sua liberdade nos diminui e nos humilha, tais e tantos seus crimes.

A carta de renúncia é uma infâmia. Eduardo Cunha, como psicopata que é, consegue se apresentar como vítima, vítima da perseguição dos homens maus que não o perdoaram por ter aberto o processo de afastamento de Dilma.

Ora, ora, ora.

Parece até que ele é São Francisco de Assis, e não o caso mais espetacular de corrupção comprovada que já apareceu na história política nacional. Perto de Cunha, Maluf virou um mirim.

Eduardo Cunha fez da Câmara dos Deputados um instrumento vil para a multiplicação de sua riqueza. Ao chegar à presidência da Câmara, sob o apoio entusiamado do PSDB e da mídia, ele já era um câncer parlamentar. Com mais poder, virou uma metástase.

Os depoimentos dos delatores são estarrecedores. Cunha, através de seus paus mandados, fazia ameaças para que não o citassem. Um delator contou que ameaçaram queimar sua casa com a família dentro.

Nada teria ocorrido a ele, a despeito de seus crimes, se não fossem os suíços. Se dependêssemos de Moro e da Lava Jato, seríamos obrigados a aturar Cunha até que a natureza se incumbisse de levá-lo para o túmulo.

As autoridades suíças entregaram de bandeja às brasileiras documentos que provam as contas milionárias que Cunha escondia no exterior.

Mesmo diante de evidências esmagadoras, ele continuou a negar as contas. Era como se ele dissesse a um bando de imbecis: “Vocês vão acreditar naqueles suíços ou em mim?”

Ele voltou a protestar inocência em sua renúncia. Como poderia mentir e dizer não ter contas fora numa CPI convocada por ele mesmo? — perguntou. Ora, como se isso fosse um obstáculo para ele pronunciar mais uma de suas inumeráveis mentiras. Ele contou sempre, em sua carreira de gangster, com a certeza da impunidade. Confiava que podia falar — e fazer — qualquer coisa sem enfrentar as consequências.

Dominava tudo e todos.

É difícil dizer o que foi mais repulsivo em seu pronunciamento de renúncia. As lágrimas? As menções a Deus? A afirmação de que sua mulher está sendo perseguida por causa dele?

Estamos falando de Claudia Cruz, em cuja conta bancária foi descoberto, conforme se soube há poucos dias, um depósito de 590 mil reais de uma empresa que financiou seu marido e foi por ele favorecida.

Claudiz Cruz, como seu marido, estava tão certa da impunidade eterna que não escondia a vida de fausto que levava, brutalmente incompatível com aquilo que o salário de um deputado permitiria. Selfies suas postadas no Facebook viralizaram como imagens da existência de rainha que ela levava.

O final da história de Cunha não será satisfatório se ele não terminar na cadeia.

A renúncia, embora de alto poder simbólico, é muito pouco para quem fez o que ele fez.

Repito: a liberdade de Eduardo Cunha vai nos ofender a todos enquanto ela perdurar.