O que há em comum entre a primeira-dama e o senador da cueca? Por Moisés Mendes

Atualizado em 17 de outubro de 2020 às 9:33

Originalmente publicado por BLOG DO MOISÉS MENDES

Por Moisés Mendes

O que há em comum entre a primeira-dama e o senador da cueca? Os dois conseguiram folclorizar a corrupção da extrema direita com seus casos envolvendo ‘trocados’.

Michelle Bolsonaro recebeu R$ 89 mil depositados em sua conta por Fabrício Queiroz e a mulher dele. Chico Rodrigues foi flagrado com R$ 33 mil enfiados na cueca.

Vistos assim, os trocadinhos para gastos diários não significam quase nada. Mas encobrem cifras e negócios milionários que ainda estão em sua maior parte encobertos.

Será que, na média, as pessoas estão interessadas em saber o que há além disso? Talvez seja bom não saber que elas na verdade não querem saber. E que basta a história de Michelle e o causo do senador.

A denúncia do caso de Michelle é de agosto. De lá até agora já se expôs quase tudo sobre as movimentações milionárias, e em dinheiro vivo, de Flavio Bolsonaro, no esquema que era gerido em parte do Fabrício Queiroz.

Mas também é evidente há horas que Fabrício Queiroz era um operador do varejo, o chinelão que captava o dinheiro de assessores fantasmas do então deputado empreendedor da família.

O dinheiro grosso, da lavagem de dinheiro, envolve mais de R$ 15 milhões em imóveis e outros negócios.

O dinheiro de Queiroz para Michelle era o troquinho para gastos do dia a dia. Eram depósitos mensais de R$ 2 mil a R$ 3 mil e foram feitos entre 2011 e 2016.

O dinheiro do senador das cuecas deve ser, na mesma linha, de trocados que a quadrilha por ele financiada enviava para gastos diários. Era dinheiro para ter na carteira, para pequenos prazeres, cigarro, pão e leite.

Cuecas não escondem tudo. O rolo do senador também é grande. Ele integrava a comissão parlamentar do Senado responsável pela execução orçamentária e financeira das medidas de combate à pandemia. É de onde saíam as previsões de dinheiro para os políticos.

A Polícia Federal já sabe que ele se envolveu com o superfaturamento de kits de testes rápidos da Covid-19 em Roraima. O conluio era com uma empresa de amigos contratada sem licitação.

O que há além dos 89 mil de Michelle e os R$ 33 de Chico das Cuecas? O esquema de Flavio Bolsonaro está exposto e só espera a denúncia do Ministério Público.

Foi sustentado pelas rachadinhas e pela lavagem (talvez também com dinheiro de campanha) em imóveis e na fantástica loja de chocolate.

O esquema de Chico ainda precisa ser melhor entendido. Mas não só o dele. As verbas para o combate à pandemia eram liberadas por emenda dos congressistas. Chico era o cara que abria a primeira porta das dotações.

Além de Chico, outros devem estar envolvidos em casos semelhantes. A polícia, o Ministério Público e o Judiciário sabem que há muito mais dinheiro do que a bunda do sujeito escondia.

Só que aí vem aquela pergunta incômoda: o dinheirinho de Michelle e o dinheirinho do Chico da Cueca não ficarão apenas como folclore? Talvez fiquem, ao lado de outros casos que ainda vão surgir.