O que Holiday, o negro do MBL, pode aprender com a surra que levou da polícia. Por Marcos Sacramento

Atualizado em 23 de novembro de 2015 às 8:28
Fernando Holiday, do MBL, recebe da PM o tratamento "vitimista"
Fernando Holiday, do MBL, recebe da polícia o tratamento “vitimista”

 

Fernando Holiday, o negro que odeia negros e é uma das lideranças do grupo golpista MBL (Movimento Brasil Livre), foi eternizado em uma foto onde aparece dominado por um grupo de policiais. O flagrante aconteceu durante a desocupação do gramado em frente ao Congresso Nacional, onde Holiday e seus asseclas acampavam pelo impeachment da presidente Dilma.

Por mais que a imagem sirva de propaganda para o MBL, o recado que ela transmite é contrário à agenda fascista do movimento. A fotografia serve para lembrar que Holiday, na condição de jovem e negro, está vulnerável e não há simpatia por ideias “liberais” e meritocráticas capazes de protegê-lo da crueldade das estatísticas contra negros.

Com uma argumentação rasteira, Holiday vocifera contra as cotas raciais e diz que o Dia da Consciência negra só serve para separar o país entre brancos e negros. Em um vídeo publicado no início do ano, ele comparou as cotas a esmolas e negros a porcos, em um manifesto que deixaria Dylann Roof, autor do massacre de Charleston, radiante.

“Nós negros e pobres podemos sim vencer na vida através do mérito, não precisamos ficar como vermes, como verdadeiras parasitas atrás do estado, querendo corroer cada vez mais e mais, com esse discurso de merda, com esse discurso lixo. Vocês fazem dos negros verdadeiros porcos no chiqueiro, que ficam fuçando a lama através do resto que o estado tem a nos oferecer”.

O posto de militante contra cotas e outras medidas progressistas não livra Holiday do risco maior de sofrer uma morte violenta quando comparado ao seu correligionário Kim Kataguiri. Tampouco garante que ele possa circular tranquilamente por uma loja de luxo sem ter os passos vigiados por um segurança.

Por ignorância, desonestidade intelectual, maldade, raiva de si mesmo ou quem sabe tudo junto, Holiday não fala dos cerca de 30 mil homicídios de jovens que acontecem ao ano, dos quais 77% das vítimas são negras. Ignora, também, os 150 mil estudantes negros que ingressaram em universidades públicas federais por meio de cotas nos últimos três anos, segundo uma projeção da Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial).

Apesar de ter contrariado estatísticas e estar em uma situação mais confortável que inúmeros rapazes da mesma idade e cor, os efeitos nefastos do passado escravocrata também o atingem. Se ele até hoje não passou por nenhuma situação constrangedora, foi graças à sorte.

Não há indícios de que a abordagem da polícia contra Holiday tenha alguma motivação racista. Mas diariamente jovens negros sofrem duras da polícia sem motivo algum, muitos desaparecem ou morrem em simulações de trocas de tiros.

Que as mãos pesadas dos agentes da Polícia Legislativa façam Holiday pensar nos riscos que enfrenta pelo simples fato de ser negro.