O Roda Viva, na nova versão, se tornou um programa de propaganda política disfarçada de jornalismo.
Isto já era esperado quando Augusto Nunes foi confirmado como apresentador. Basta você ver qualquer texto dele no site da Veja.
Nunes, depois de um longo ostracismo no jornalismo, foi recontratado pela Veja – de onde saiu em meados dos anos 1980 – para produzir textos antipetistas.
E a tevê Cultura, mantida pelo governo de São Paulo e sustentada pelo dinheiro público, é a mesma de sempre: não tem nenhum pudor em fazer propaganda política como se fizesse jornalismo.
Aconteceu, portanto, o que era amplamente previsto: a instrumentalização do que foi, no passado, um programa de entrevistas respeitado.
A surpresa, para mim, passados alguns meses da nova gestão, é como jornalistas fora do grupo que vive de atacar o PT se prestam a participar do que é, hoje, um circo.
Vi, no último programa, por exemplo, Eugênio Bucci. Conheci nos anos de Abril, e ele é um jornalista sério. O que ele estava fazendo num programa que não é sério?
Cito-o ao acaso, porque o vi dias atrás, apenas. Mas me refiro a todos os figurantes – jornalistas independentes — que têm ajudado a colocar no ar o Roda Viva.
Eles não se dão conta de que são usados, manipulados, que são apenas escadas? É uma hipótese, e a mais provável na minha opinião.
Que a turma de Augusto – Azevedo, Setti, Villa etc – frequente o programa era esperado.
Mas e os demais?
Dinheiro não é. Houve, no passado, um cachê simbólico, lembro. Fui a alguns programas nos dias de Jorge Escosteguy. Fora o cachê – imagino que uns 500 reais em dinheiro de hoje –, era oferecido um jantar no Rodeio depois do programa, em que entrevistado e entrevistadores confraternizavam.
O dinheiro, portanto, não explica.
A exposição é a resposta? Não subestimemos a vaidade dos jornalistas, mas é preciso lembrar que participar de um programa de falso jornalismo não contribui muito para a imagem de ninguém.
O Roda Viva precisa de alguns entrevistadores que não sejam reacionários para dar uma aura de “diversidade” aos espectadores.
É uma espécie de cota da conveniência.
Teoricamente, os jornalistas recusariam este papel infame. Alguém pode imaginar Mino Carta, por exemplo, sentado ali?
Mas eles, os jornalistas, comparecem e alimentam, alegremente, o circo. Ou não é circo um programa em que Augusto Nunes abre uma entrevista com Lobão com a seguinte pergunta: “Lobão, o que você pensa da presidente Dilma Rousseff?”
A cena que me vem à mente agora é Eugênio Bucci tentando apertar Tuma Jr, que suava e arfava como se estivesse sob o calor infernal que marcou o romance Grande Gatsby.
Fracassou a tentativa. Claro. O papel dos jornalistas sérios, no Roda Viva, é secundário. Eles estão ali apenas como objeto de decoração num ambiente completamente enviesado.
Talvez um dia eles se deem conta disso. Ou talvez não, e continuarão a ser usados pelo que é hoje um programa que finge ser de jornalismo.