O que levou a PM a jogar bombas nos manifestantes no Largo da Batata. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 5 de setembro de 2016 às 1:23

https://www.youtube.com/watch?v=23IjCvBAcGU

 

O protesto do Fora Temer marcado no dia 4 de setembro de 2016 teve duas frentes. Um ponto de encontro foi na frente do MASP e o outro foi na Praça do Ciclista, ambos na Avenida Paulista. Começou às 15h.

Cheguei meia hora antes com uma amiga. Falei para ela: vamos aproveitar para ver onde a Polícia Militar está de prontidão.

Rapidamente encontrei os homens na Alameda Santos, paralela à Paulista. Eles estavam agrupados na Praça Alexandre de Gusmão, que fica escondida atrás da estação Trianon-MASP.

Havia pelo menos sete veículos, entre carros, ônibus e camburão, com oficiais da Tropa de Choque, motoqueiros ROCAM e outros policiais. Uma base comunitária estava instalada mais próxima dos manifestantes.

O movimento Fora Temer começou pequeno no vão do MASP. Fiz transmissões ao vivo no Facebook e conversei com manifestantes. Os jovens faziam discursos contra a Polícia Militar e não queriam deixar de provocar os milicos. Os mais velhos frisavam que estes protestos não pregavam a violência aberta e que as autoridades estavam apenas fazendo seu trabalho.

Havia famílias inteiras. Papai, mamãe, filhos pequenos e cães. Muitos ciclistas que aproveitam a Paulista aberta de Haddad também engrossaram o coro dos insatisfeitos. Idosos estavam presentes.

O ex-ministro de Dilma e secretário de Saúde do governo Haddad, Alexandre Padilha, falou com o DCM durante o protesto. “Minha filha nasceu no ano anterior ao golpe. Quero contar para ela, e para os netos, o que realmente aconteceu no país”, disse.

O líder do MTST, Guilherme Boulos, discursou pedindo eleições diretas já, não o retorno de Dilma Rousseff. E mesmo com muitas pessoas levando cartazes em homenagem à ex-presidente, houve um consenso, na rua, de que as pessoas estavam pedindo o retorno do voto democrático.

O protesto seguiu da Avenida Paulista para o Largo da Batata, perto da estação Faria Lima do metrô. O ato pacífico passou pela Rebouças, sem nenhuma ajuda da Polícia Militar no bloqueio do trajeto.

O MTST divulgou que a Paulista concentrou 100 mil pessoas, dado utilizado pela Folha de S.Paulo e pela grande mídia. A PM, diante de tanta gente, não ousou dar um número menor.

Ao chegar ao Largo da Batata, as pessoas pegaram um caixão com o rosto do presidente Michel Temer e botaram fogo. Era o funeral de um golpista. Ao mesmo tempo, os helicópteros da polícia voavam baixo com lentes focadas nas pessoas.

Ninguém fez nada, mas foram até a estação de metrô provocar e gritaram “catraca livre”. “Pula catraca”. Era o que a Tropa de Choque precisava para seguir seu roteiro padrão: atirar bombas, encurralar e perseguir civis.

As bombas estouraram no quarteirão da Teodoro Sampaio com a Faria Lima, com as pessoas correndo quase que imediatamente. O último carro de som mal estava desmontado.

Consegui me aproximar da Tropa de Choque e transmiti a repressão ao vivo nas costas da polícia. O repórter da BBC Felipe Souza não teve a mesma sorte, porque ficou perto dos manifestantes e tomou golpes de cassetetes quando o Choque avançou.

Um ciclista pediu ajuda da PM para sair dali e não teve resposta. Não havia explicações a dar diante de um cenário em que o Estado resolve reprimir seus cidadãos.

Parafraseando a jornalista Ana Paula Freitas, do site Nexo, digo que aquelas não eram 40 ou 100 pessoas, como Temer quer acreditar, e também não eram vândalos. O problema é que a PM age como cão de guarda do Estado, atacando manifestantes sem motivo e colocando em risco a vida de um monte de gente que estava exercendo um direito democrático.

A democracia não acabou no impeachment.