Originalmente publicado em TIJOLAÇO
Por Fernando Brito
O anúncio de Jair Bolsonaro de que se exigirá um termo de assunção de riscos para todos os que desejarem vacinar-se contra a Covid-19 não terá, pelo absurdo que é depois de uma vacina ser aprovada como segura pela autoridade sanitária é apenas uma peça de propaganda sombria da ‘ideologia’ eugenista e necrófila praticada pelo presidente da República e seu grupo de obscurantistas.
Bolsonaro sabe que isso, muito mais em meio a uma nova escalada de mortes, é algo que não tem qualquer possibilidade de vingar, seja no Congresso, seja perante o Judiciário, onde vai, é claro, terminar esta perversidade.
É apenas o aproveitamento da “supremacia do eu” que é o fundamento da extrema direita atual, porque é assim que ela opera: “tenho arma se eu quiser, ponho filho na escola se eu quiser (o tal homeschooling), tomo vacina se eu quiser”.
E Bolsonaro não quer que as pessoas se vacinem, simples assim.
Adiará o quanto puder o processo de compra de imunizantes, prolongará o quanto conseguir a aprovação regulatória e tentará o quanto for capaz de amedrontar a população para que não se dobre ao que acredita ser um complô comunista para “dominar o mundo” pelo caminho da pandemia.
Vacinar-se, afinal, é coisa de “maricas”, tanto quanto o “fique em casa”.
Jair Bolsonaro avança e recua, avança e recua, mas está permanentemente neste caminho e sua ação já conseguiu, como mostrou o Datafolha, obter o convencimento de um quarto da opinião pública.
Um quarto dos brasileiros loucos é, convenhamos, marca digna do Simão Bacamarte d’O Alienista de Machado de Assis.