‘O que o Brasil faz junto de China, Irã e Coreia do Norte?’, questiona Zelensky a Luciano Huck

Atualizado em 27 de agosto de 2024 às 12:47
Luciano Huck e Zelensky. Foto: reprodução

Em entrevista ao apresentador Luciano Huck, da TV Globo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez duras críticas ao presidente Lula (PT), questionando a postura de neutralidade adotada pelo Brasil em relação à guerra na Ucrânia. Zelensky afirmou que, sob a liderança de Lula, o Brasil deveria se alinhar à posição defendida pela Ucrânia e pelos países membros da OTAN.

Confira alguns trechos:

O quão distantes estamos do fim da guerra? O senhor tem um plano para a paz?

Tenho. Não posso dividir agora os detalhes, mas farei isso em breve. Nós sabemos o que é preciso.

É um plano para a vitória ou um plano para a paz?

Temos um plano de paz, que pretendo apresentar até novembro. Mas a pergunta que fica é: os russos concordarão? (…)

O Brasil se nega a tomar partido abertamente na guerra, alegando neutralidade. O presidente Lula disse recentemente que “não há razão para procurar culpado na guerra”. O que o senhor acha disso?

Isso é apenas retórica política. Não é uma fala honesta. Não é honesta nem conosco nem com o povo brasileiro. Porque todo mundo sabe quem iniciou essa guerra. A equipe dele trouxe uma resolução para nós, antes do do “encontro pela paz” que organizamos, mas o Brasil não quis vir, o presidente Lula não quis vir. Foi uma pena. Eu me reuni com o time dele algumas vezes, mas até agora eles não se uniram a nós na busca de uma solução.

Lula e Zelensky conversam sobre paz em Nova York — Planalto
Lula e Zelensky. Foto: reprodução

Por outro lado, eles se somaram ao plano chinês. O primeiro-ministro Modi, da Índia, esteve aqui há dois dias e me perguntou: qual seu pensamento sobre o plano chinês? E eu disse que não é um plano. É apenas uma declaração política, só para dizerem que não estão alheios à guerra —mas é apenas algo no papel.

Eu entendo apenas propostas concretas e honestas. Eu falo pelas nossas vítimas, pelos nossos mortos. Então, se você quer nos ajudar a parar a guerra, ou nos ajudar a fazer com que o Putin pare com a guerra, nós temos que nos unir.

O Brasil é uma liderança importante do Sul Global. Que mensagem o senhor mandaria para Lula e para o meu país?

Tive uma reunião com o presidente Lula e vi que ele me entendeu. Porque tivemos um diálogo muito bom, realmente bom. Estou agradecido por isso, mas ele vive as narrativas da União Soviética. É uma pena. Ele pensa na Rússia como se hoje ainda existisse a União Soviética.

A China é um país democrático? Não. E o que dizer sobre o Irã? É um país democrático? Não. E o que dizer da Coreia do Norte? Eles não são países democráticos. Então, o que o Brasil, um grande país democrático, faz nessa companhia? Eu não consigo entender esse círculo de países.

É normal quando você tem relações econômicas, mas estamos falando sobre uma guerra, não é sobre relações econômicas. É sobre geopolítica, é sobre valores, é sobre pessoas. É sobre democracia, propósito e liberdade. O que um país democrático e livre como o Brasil está fazendo junto com países que não respeitam estes valores? Quem vai ganhar essa queda de braço? O Brasil vai engolir esses quatro aliados ou esses quatro aliados vão engolir o Brasil?