O que o juiz Barroso estava fazendo num evento da Veja? Por Paulo Nogueira

Atualizado em 1 de junho de 2016 às 18:44
Esta foto não deveria existir
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O que o ministro Luís Roberto Barroso estava fazendo num evento promovido por uma revista que fez horrores para derrubar Dilma?

A presença de Barroso num fórum da Veja é uma demonstração fabulosa da falta de sensibilidade dos ministros do STF diante da fumegante crise política que tragou o país.

Não é conveniente nunca juízes se misturarem à mídia, e ainda menos quando pairam suspeitas de que a imprensa e a Justiça se concluiaram no golpe.

Que Gilmar esqueça regras básicas de decência e viva pegando microfones para fazer propaganda política, é uma desgraça contra a civilização à qual estamos já acostumados, lamentavelmente.

Mas Barroso não deve seguir seus passos.

Barroso tinha algo de importante a dizer para prestigiar a Veja? Aparentemente, não. Ele repetiu um clichê que é frequente em pessoas que ficam em cima do muro. Falou do “Fla-Flu” nacional.

Ora, ora, ora.

Não existe “Fla-Flu”. Há um pequeno grupo — a plutocracia — empenhada em dar um golpe de estado para desalojar uma administração progressista que chegou ao poder e nele se manteve pelas urnas.

É um absurdo igualar os dois lados que se opõem como se fossem um mero Fla-Flu.

Chamaram a atenção também os elogios feitos por Barroso a Joaquim Barbosa e a Sérgio Moro. Ora, os dois simbolizam a partidarização da Justiça iniciada com o Mensalão. Não à toa, JB e Moro foram alçados à condição de herois pela mídia. Porque perseguiram freneticamente Lula e Dilma e outras lideranças petistas, e contribuíram, cada qual a seu tempo, para dar ao PT a aura que a imprensa tanto queria construir: a de o partido que inventou a corrupção.

Quando li que Dilma indicara Barroso, fiquei apreensivo. Sabia que ele trabalhara para a Globo. Era advogado da associação que faz o lobby das empresas de tevê, a ABERT.

Neste tempo, publicou no Globo um artigo patético em que defendia a reserva de mercado para as companhias jornalísticas.

Um de seus argumentos era que, se os chineses comprassem uma emissora no Brasil, poderiam fazer livremente a propaganda do comunismo moísta entre os brasileiros. Isto depois, muito depois de o comunismo desaparecer e a China dar uma virada radical para a economia de mercado. Uma tolice da Guerra Fria foi usada décadas depois por Barroso na defesa das mamatas da Globo.

Por que Dilma o escolheu? Não tenho a menor ideia. Trabalhar para a Globo deveria ser um impeditivo para Dilma, num mundo menos irracional.

Meus anos de executivo me ensinaram a fazer perguntas chave na hora de recrutar pessoas para posições chave. Dilma deveria ter perguntado a Barroso: qual sua opinião sobre o STF no Mensalão? E sobre Barbosa?

Os americanos entendem que a escolha de um juiz da Suprema Corte é uma das tarefas mais importantes na vida de um presidente. Roosevelt só conseguiu por em marcha seu New Deal depois que, com o tempo, montou um Supremo com maioria progressista. Os juízes conservadores que dominavam a Suprema Corte vinham sistematicamente derrubando as medidas que Roosevelt tentava adotar em benefício dos americanos mais pobres.

Nem Lula e nem Dilma fizeram o que Roosevelt fez. Pagaram um preço enorme por isso.

A ida de Barroso a um evento da Veja é uma pequena amostra disso.