O que o novo namorado de Fátima tem a ver com a polarização política no Brasil. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 3 de novembro de 2017 às 20:31
Fátima e o namorado Túlio Gadêlha

 

Depois de Patrícia Lélis – a ex de um Bolsonaro que o trocou por um médico cubano de esquerda – aparentemente é a vez de Fátima Bernardes, que está namorando um socialista recifense de 29 anos – sim, estamos em 2017 e você está lendo que Fátima Bernardes, aquela que nenhum brasileiro conseguira imaginar sem William Bonner, está namorando um socialista recifense.

Vivemos o ano em que ex-militantes do PSC – Partido Social Cristão, para que fique claro – namoram médicos cubanos e aderem ao feminismo e jornalistas de emissoras declaradamente direitistas (e golpistas, pois temos a oportunidade de lembrar), namoram socialistas.

Por mim tudo bem.

Que seja Fátima Bernardes uma coxinha – não sabemos ao certo, já que se trata de uma persona muitíssimo discreta que não costuma declarar-se politicamente, mas suponhamos – namorando um socialista.

Em sociedades progressistas, as pessoas namoram quem querem – graças a deus, seja ele quem for.

Eu sou declaradamente a favor de progressismo e mais ainda a favor do amor.

A polarização política no Brasil, entretanto, é tão raivosa que até a vida privada – durma com essa, Nelson Rodrigues – teve que ir no bolo. As pessoas simplesmente não aceitam que uma esquerdista de repente se apaixone por um centrista ou por um direitista ou por um cidadão comum que não tem posicionamento político definido.

Como se já não existisse a paixão. Como se as castas políticas que nós mesmos criamos fossem capazes de desafiar o universal e misterioso amor – e sabe-se lá do que estamos falando quando falamos de amor. Precisamos rejuvenescer, diria Belchior.

Para aproveitar o gancho musical, Raul cantaria – quem sabe lendo o jornal de manhã – que “o eco das suas palavras não repercutem em nada”, o que me faz pensar, talvez sem razão, que a solução para que uma geração perdida encontre a si mesma é que aprendamos a entrar em contato uns com os outros para além de rótulos políticos – malditos rótulos -, amarras partidárias, dogmas ideológicos, e, sobretudo, que compreendamos, em primeiro lugar, que a vida amorosa de outrem não é problema nosso – isso deveria ser matéria de ensino fundamental.

Que todas as ideias circulem entre todas as pessoas, porque só em movimento as ideias evoluem. Se der pra fazer isso com amor, ótimo – e com um gato recifense como o namorado de Fátima, melhor ainda.