O grande assunto do mundo dos negócios, nestes dias, é o caso Apple X Samsung.
Mais especificamente: o veredito pró-Apple emitido pela justiça da Califórnia contra a Samsung. A sul-coreana Samsung foi obrigada a pagar uma multa de 1 bilhão de dólares por copiar, segundo a sentença, o iPhone e o iPad.
Jornalistas e consumidores de tecnologia estão debatendo freneticamente o episódio. Militei muitos anos no jornalismo de negócios, e é claro que fui atraído pela discussão. Não fosse isso, smartphones e tablets fazem parte da vida moderna. Eu próprio: leio livros, checo o noticiário, pesquiso coisas e fotografo em meu iPhone e em meu iPad.
Primeiro, para colocar em perspectiva. Um bilhão de dólares é muito dinheiro, sim, mas a Samsung fatura mais de 100 bilhões por ano.
Segundo, e mais importante: a Apple, paradoxalmente, pode ter perdido mais que a Samsung. No universo da tecnologia, o tom geral é de antipatia pela Apple – muita gente usou a palavra “ganância”.
Que a Apple não é uma grande corporação diferente das outras, como muitos mcmaníacos acham ou achavam, até as maçãs sabem. O NY Times, há pouco tempo, publicou as manobras que a corporação faz para pagar menos imposto do que deveria – dentro do que se pode classificar como legalidade amoral. O departamento de contabilidade da Apple é “tão criativo” quanto o setor de novos produtos, notou o Times.
Mas o ponto é outro. Um blogueiro altamente influente em assuntos de tecnologia escreveu um texto que está sendo reproduzido com frenesi nas mídias sociais: “A Samsung teve a melhor propaganda que 1 bilhão de dólares podem comprar”, afirmou ele.
O blogueiro reproduziu uma conversa que ouviu numa Starbucks numa mesa ao lado. As pessoas (leigas), falando do assunto, concluíram: quer dizer então que existem aparelhos iguais aos da Apple por um preço bem menor?
Um outro jornalista de tecnologia notou outra coisa. Se 1 bilhão de dólares foi o preço que a Samsung pagou para ser a segunda no mercado de smartphones, fez um excelente negócio. Desde que a Apple lançou o iPhone, em 2007, a concorrência tinha duas alternativas. Uma: apostar no fracasso. A outra: imitar.
A Nokia escolheu o primeiro caminho. Alguém se lembra do seu Blackberry, hoje? Era tão dominante, alguns anos atrás, que na trilogia 50 Tons de Cinza, escrita naqueles dias, os personagens se comunicam sempre por Blackberries. É provavelmente a marca com mais destaque na trilogia.
A Samsung optou por imitar. A Apple fez 70 bilhões de dólares desde 2007 apenas com o iPhone. A Samsung, com seu Galaxy, se firmou na segunda colocação num mercado crescente e multibilionário. Acertou.
Imitar, no mundo dos negócios, é um tema complexo. A Pepsi imitou a Coca? O Google imitou o Yahoo? A GM imitou a Ford?
A Apple mesmo tem uma história interessante a contar nesta área. Steve Jobs, garoto, deu a seu negócio de garagem, em 1977, o mesmo nome que, uma década antes, os Beatles tinham dado à empresa que fundaram para lançar seus discos e fazer outros negócios. A mesma marca, e a maçã como logotipo.
Embora fosse beatlemaníaco na juventude, Jobs sempre negou que sua Apple derivasse da Apple dos Beatles. O assunto foi objeto de disputas jurídicas ao longo de muitos anos. A Apple de Jobs aceitou na justiça pagar uma soma à Apple dos Beatles.
Ficou acertado, fora a indenização, que a Apple de Jobs não entraria no mercado da Apple dos Beatles – música. Mas depois entrou, e outra vez a disputa foi para os tribunais. É um conflito jurídico que vem se arrastando ao longo dos anos.
Volto a meu velho Wellington, o cauteloso general que já ia bater em retirada em Waterloo diante de Napoleão quando as forças prussianas chegaram para salvar sua reputação e mudar a história da humanidade: quem acredita que a Apple de Jobs não copiou o nome e o logo da Apple dos Beatles acredita em tudo.
Quanto a mim, como consumidor: como registrou o blogueiro citado neste texto, me incluo entre aqueles que gostaram de saber que existem alternativas tão boas quanto os produtos da Apple por um preço menor.
Vou de Galaxy provavelmente quando trocar o iPhone.