Uma das ausências mais sentidas na transmissão das Olimpíadas, não necessariamente no bom sentido, tem sido a de Galvão Bueno. Como a Record comprou os direitos, Galvão pode ser apreciado no Sportv, canal de assinatura em que comanda uma mesa redonda. Claro que quem acaba falando mesmo é ele, enquanto os convidados ficam como coadjuvantes, semicalados ou concordando sempre, eventualmente expondo uma ou outra ideia. Por mais medalhas que tenham os atletas que visitam o set, quem “brilha” é o velho narrador, aboletado numa bancada ao centro, tendo duas pessoas de cada lado. A bancada lhe dá um ar de pastor da… Record. Sentimental, no programa da última quarta Galvão deblaterava, emocionado, sobre as Olimpíadas que cobriu e agradeceu a Deus pela oportunidade de levar alegria a tantos brasileiros.
Ele anda usando um colarzinho descolado, com um pingente dourado, visível sob a gola meio aberta da camisa azul. Para quem está acostumado a vê-lo reinando na Globo, é curioso testemunhar seu esforço em manter a bola alta naquele estúdio espartano, um iPad à sua frente (de enfeite), o janelão com vista para o estádio de Wembley ao fundo. Nalbert, ex-jogador de vôlei, é a presença mais frequente.
Outra era a do comentarista Renato Maurício Prado, que deixou de ir ao programa depois de um pito que Galvão lhe passou ao vivo. Prado, flamenguista doente, famoso por seus pitis histéricos na TV, não gostou da bronca pública de Galvão (teria dado na tevê aberta?). Bueno falava do vôlei com Nalbert quando Prado o interrompeu: “Agora fala o que você disse antes de começar o programa, de que só ganhou a medalha porque houve boicote” (os jogos de Los Angeles em 1984 foram boicotados por 14 países, sob iniciativa da falecida União Soviética. Foi uma resposta ao boicote dos Estados Unidos aos jogos de Moscou em 1980). Galvão passou-lhe uma descompostura antológica e depois tentou, sem sucesso, cumprimentar o “colega”. Prado desertou do Conexão SporTV.
Na quarta, Renato Maurício Prado foi substituído pelo jornalista PC Vasconcelos, “colocado” na atração com um efeito estranhíssimo, uma espécie de teletransporte que o tirou do Rio para deixá-lo sentadinho ao lado de Galvão. A falta de sincronia e o delay resultaram num bug épico. Ao receber a dupla do vôlei feminino que levou o bronze, Juliana e Larissa, a primeira pediu, no final da entrevista, que Galvão narrasse a vitória delas. Galvão, meio pego de surpresa, mas claramente radiante com a gentileza, não se poupou e gorgolejou: “Eu teria dito: ‘Acabou, acabou, é bronze, é bronze, Brasiiiiiil!’”
O efeito foi contrário: quem não se lembrou de Galvão Bueno durante os Jogos pensou no alívio que foi não ter ouvido isso acontecer numa partida das Olimpíadas de Londres.