Revi há pouco tempo um filme de Chabrol, A Mulher Infiel.
Gosto do ritmo lento do cinema francês dos anos 60. Você pode dar uma cochilada básica e mesmo assim o filme não perde o sentido. A vertiginosa velocidade vazia de Hollywood me provoca tédio, paradoxalmente.
Mas o tema não é cinema, aqui.
É casamento.
Não vou dizer que o marido do filme estava muito gordo para manter o interesse da mulher estupenda que, em dias melhores, conquistou. Também não vou dar minha opinião sobre homem que dorme de pijama, e ainda mais azul. Me absterei de comentar as baforadas que ele deu no sofá no rosto belo da mulher, que tentava comer em plena fumaça.
Vou me deter no que mais chama a atenção.
Não há casamento que resista a isso. Os dois na cama. Uma noite tépida, que convida a dormir vestido com a brisa morna. Sequer pernilongos há na França, ou pelo menos no filme. Ela de camisola transparente, os seios pré-silicone expostos à visitação dos olhos do marido. São firmes, delicados, dispensam sutiã e acendem a imaginação.
Como toda infiel, ela ironicamente anseia em se entregar para o marido, como se assim expiasse a culpa.
Fora colocar uma música no toca-discos, na era do vinil, tudo que o marido faz, depois de apagar a luz, é falar é: “Boa noite.”
Deus, há uma fêmea maravilhosa a seu lado, mas ele prefere o sono.
Não há fórmula certa para manter um casamento. Mas há para não manter.
Esse trecho de Chabrol é uma lição sobre o que um homem não deve fazer se estiver interessado na exclusividade sexual de sua mulher.
Era dever do marido, aliás um dever bem agradável, possuí-la com paixão, nem que para isso tivesse que abdicar do pijama. Beijá-la de todas as formas, fazer as coisas que ela aprecia na cópula, e só dar boa noite quando ela estivesse exaurida sexualmente, satisfeita como uma cartomante ao encontrar uma otária rica e crédula.
Talvez assim no dia seguinte ela apanhasse aquele velho telefone preto para dizer ao amante que aparecera infelizmente um compromisso. Com o próprio marido.