O que você pode esperar da nova fase da indústria pornô

Atualizado em 4 de dezembro de 2012 às 18:40

Em breve qualquer um terá um aplicativo no celular que vai permitir o sexo rápido

Filme erótico oriental em 3D

 

Minha primeira lembrança de um filme pornô tinha cheiro. Fui assistir Garganta Profunda, o clássico hardcore com Linda Lovelace. Era algum momento da década de 1970. Fui a um cinema decadente do centro de São Paulo, onde homens entravam constrangidos, sem contato visual. Lá dentro, no escuro, gemidos masculinos disfarçados se espalhavam no ar, junto com um cheiro nauseante.

Antes disso havia o “traficante” mirando garotos adolescentes em chamas. De repente, ele – pst! – abria sua maleta cheia de livrinhos toscos. Eram os chamados catecismos. Reproduções em xerox da obra criada pelo poeta da pornografia brasileira, o imortal Carlos Zéfiro.

Comprávamos meia dúzia, levávamos para casa, fingíamos que estávamos com dor de barriga. Escondido num bolso, o catecismo ia junto para o troninho. Era tudo o que a gente tinha.

Pornografia sempre existiu. Mas deixou a clandestinidade e se tornou uma poderosa indústria quando inventaram o videocassete. O prazer solitário saía do cinema para a intimidade do quarto. Eu já me achava feliz com minha coleção de fitas VHS de China Lee. Foi então que veio o computador pessoal. E depois a internet. E tudo que já existiu na história do erotismo ficou ingênuo perto do que nossos olhos passaram a ver.

Num oceano de taras e fetiches, é possível encontrar tudo o que se quiser. E provavelmente muito além do que se imaginava. Um dos meus achados favoritos é uma animação japonesa de computação. O desenho (realista e em 3D) mostra uma professorinha de seios monumentais saindo da penumbra para encontrar três de seus alunos adolescentes. Ela se submete ao que eles querem. Um de cada vez. Depois os três juntos.

É uma historinha comum. Mas essa “atriz” criada por computador é fruto da imaginação humana. Essa professorinha age como um homem sonha que uma mulher deva se comportar. Os detalhes físicos da personagem são ligeiramente exagerados. É assim que funciona em nossos sonhos. A professorinha peituda é uma fantasia impossível. Ao mesmo tempo é realista. E essa combinação só piora nossa dependência. A professorinha não existe. E existe.

O que está ainda por vir? Lembro de Brainstorm, um filme de 1983 com Christopher Walken e Natalie Wood. Walken inventa um “gravador de pensamentos” (com fita magnética!). Ele transa com uma mulher e grava tudo. Quando repete o momento do orgasmo, tem outro orgasmo, real. E de novo. De novo. Chegaremos a isso? Não sei.

Mas muitas novas tentações estão para acontecer. Como filmes pornôs em 3D. E games interativos de imersão com temas sexuais. Já estamos nessa era, mas ela ainda não se popularizou. Em breve qualquer um terá um aplicativo no celular que permite o sexo rápido, sem problema, sem culpa, sem maiores consequências. Dá para imaginar o potencial dessa nova fase da indústria pornô?

Isso nunca substituirá o sexo real, corporal, pele roçando em pele, beijos, apertos, cheiros, visões, sentimentos, química emocional e pequenas mortes. Mas esse outro sexo, simulado e solitário, promete ficar cada vez melhor nos anos que estão por vir. Tudo isso é possível porque nosso principal órgão sexual é o cérebro.

O texto acima foi publicado originalmente na revista INFO.