Vários adjetivos servem para os 12 suspeitos identificados pelo Ministério Público de São Paulo como autores das ofensas à jornalista Maria Júlia Coutinho, a Maju: velhacos, racistas e desocupados servem muito bem para todos eles. Mas se fosse para usar apenas um, seria “covardes”.
Os suspeitos, escondidos por trás de perfis fakes, apelaram para um tipo de agressão que não costuma punir seus praticantes com penas rigorosas. Além do mais, ataques a alvos como Maju e as atrizes Taís Araújo, Cris Vianna e Sheron Menezzes provocam repercussão na mídia sem, contudo, oferecer maiores riscos à integridade física dos agressores.
São ataques seguros e com o apoio sutil daqueles que negam a existência do racismo e alegam que tudo não passou de uma brincadeira de mal gosto e que “hoje em dia tudo é racismo”.
Ousadia seria sair pela internet espalhando gracinhas sobre o PCC, por exemplo. Ou entrar na página dos admiradores da Rota e escrever baboseiras xingando os policiais ou mesmo questionando os métodos usados pelo batalhão. Isso eles não fazem, pois sabem que os xingamentos virtuais poderiam se transformar em encrencas bem mais complicadas que receber a visita da uma equipe do Ministério Público.
Nem mesmo Joaquim Barbosa, quando esteve à frente do Supremo Tribunal Federal, foi vítima de ataques orquestrados como os que eles perpetraram contra Maria Júlia.
Isso não é obra do acaso e sim indício de como eles preferem atacar segmentos mais vulneráveis da sociedade. Qualquer semelhança com as gangues fascistas que se juntam em bando para espancar ou matar integrantes de minorias não é mera coincidência.
Por mais que as investigações do MP tenham constatado que as agressões contra Maju faziam parte de uma disputa entre gangues virtuais, a questão do preconceito racial e da humilhação é forte demais para ser colocada em segundo plano.
Mesmo que a operação do MP, com cumprimento de mandados em oito estados, tenha mostrado que a internet não é terra sem lei, a punição a um dos envolvidos não foi das mais rigorosas, pelo menos por enquanto.
Erico Monteiro dos Santos, identificado como um dos líderes da gangue, pagou uma fiança de mil reais para responder ao processo em liberdade, mesmo armazenando fotos de pornografia infantil em seu celular.
Para quem estaria em uma disputa por notoriedade no submundo da internet, ter aparecido na televisão enquanto prestava depoimento pode render um bom prestígio nos fóruns que ele frequenta. No final das contas, parece que a brincadeira dos covardes movidos a leite com pera está dando certo.