Ela viu força num mundo morto.
Bem, atire uma pedra quem nunca deu uma carteirada.
Por isso, há um excesso de rigor joaquimbarbosiano no linchamento a que está sendo submetida a jovem blogueira Giovanna Ferrarezzi, 21 anos.
Giovanna virou febre nas redes sociais depois que postou um desabafo no Facebook, irada com a atitude de uma casa noturna que não permitiu a ela furar uma fila enorme mesmo depois que ela se apresentou como blogueira da Capricho.
A causa não era boa, é verdade.
Mas fossem outros os tempos e Giovanna teria sido atendida como uma pequena princesa pela casa noturna.
O fracasso de Giovanna em sua solicitação está essencialmente associado à morte da mídia impressa.
No mundo jovem e adolescente, exatamente aquele da casa noturna, a Capricho era uma grande marca antes da internet.
Já não é nada, ou quase nada.
Em seu relato, Giovanna diz que, ao se queixar, ouviu o seguinte de alguém da boate: “Mas a Capricho não acabou?”
Como todas as revistas no Brasil e no mundo, a Capricho está numa espécie de corredor da morte.
Pode durar algumas semanas, meses, ou mesmo anos, mas uma hora a execução vem.
Utilizá-la como arma de pressão em discussões, como Giovanna fez, é inútil.
Pouco tempo atrás, um jornalista de Nova York escreveu um artigo no qual lamentava um mundo desaparecido, aquele em que as pessoas esperavam ansiosas pela capa da Time, pelas resenhas de restaurantes da New York e coisas assim.
Ninguém mais liga. Ninguém mais vê.
A segunda maior revista do mundo, a Newsweek, foi encerrada sem que ninguém quase notasse.
Uma das maiores revistas de negócios, a Business Week, foi vendida pelo preço simbólico de 1 dólar.
E a própria Time recentemente não encontrou comprador quando seus donos tentaram se desfazer dela para se concentrar na divisão de entretenimento.
Giovanna, no apogeu do desconhecimento e da ilusão que os 20 anos trazem, achou que a Capricho desfaria milagrosamente uma fila enorme.
Alguns dias atrás, me contaram uma história reveladora.
Os jovens estagiários de 2013 da Abril foram reunidos para uma conversa com os principais executivos.
“Alguém assiste o Faustão?”, foi perguntado.
Ninguém.
“Alguém lê Veja e Exame?”
Apenas um estagiário ergueu o braço.
Giovanna viu força num mundo em decomposição: este foi seu maior erro.