POR ÁTILA DRELICH, de Jerusalém
Com uma diferença de 6 horas em nosso fuso horário em relação ao Brasil, nos chega nesse fim de tarde, em plena pandemia de coronavírus, imagens que mostram uma imensa manifestação organizada por apoiadores do atual governo brasileiro em frente ao Palácio do Planalto pedindo, entre outras coisas, a intervenção militar e a volta do AI-5.
Como se não bastasse presenciarmos esse teatro do absurdo, testemunhamos um ritual que nos lembra a mesma estética nazista que assistimos no filme “Triunfo da Verdade”, no qual vemos a cena de bandeiras nazistas empunhadas como estandartes de guerra.
Contudo, na versão tupiniquim de patriotismo às avessas, o lábaro ostentado é o de Israel e o dos EUA.
Ao mesmo tempo em que tudo isso se sucedia no Planalto Central, o Brasil registrava 7020 mortes por Covid, mais do que o povo judeu perdeu em sua guerra de independência em 1948, quando teve de lutar contra uma coalizão formada por 6 países e outras forças de voluntários vindos de muitas partes.
Uma vez mais, como tem reiteradamente ocorrido nos últimos três anos, assistimos no Brasil, o pavilhão de Israel ser sequestrado por uma narrativa absurdamente distinta de todos os valores que inspiraram o nacionalismo judaico em curso de mais de um século.
Ao longo dos seus 75 anos Israel se construiu como uma sociedade multicultural, fundada em um Estado de Direito, marcado por amplas garantias civis e, sobretudo, por absoluta liberdade religiosa.
O trabalho duro de seu povo e seu gênio criativo converteram Israel na única democracia florescente do Oriente Médio comprometida com o valor inegociável da igualdade de gênero e raça.
Ou seja, Israel é sob todos os aspectos, a mais perfeita antítese do que assistimos ser praticado pela atual governança brasileira.
Bolsonaro e seu séquito de neopastores ávidos por uma fatia do orçamento público se assemelham mais a uma matilha de hienas, que promovem diuturnamente em seus templos, um ritual macabro de adoração ao seu novo símbolo sagrado, que como um totem revivido do passado, nos faz lembrar da mais antiga forma de idolatria que conhecemos.
Transformada em uma vil flâmula de milícia, a bandeira de Israel, banhada pelo sangue de 23.816 soldados que tombaram para que pudéssemos seguir em frente na construção de uma nação vibrante, requer seu resgate, assim como os restos mortais de Eli Cohen, que nunca nos foi devolvido pelo governo da Síria.
Nesse momento no qual Israel sai plenamente vitorioso da guerra contra o covid, fruto das decisões acertadas de seu governo e da responsabilidade social de cada israelense que aceitou cumprir um lockdown de 40 dias, exigimos do governo brasileiro uma reparação pública pelas desairosas declarações de seu Ministro das Relações Exteriores.
De forma absolutamente inapropriada, ele comparou o distanciamento social com o genocídio nazista, o cumprimento da promessa eleitoral e do compromisso público de transferência da Embaixada do Brasil para Jerusalém e a devolução de nosso símbolo de coesão, nossa bandeira nacional.
Voltamos a ser colônia. ? pic.twitter.com/n7HopF3Yf9
— PolitiQueijo (@PolitiQueijo) May 3, 2020