O show de cinismo e verborragia de Dallagnol no Roda Viva. Por Leandro Fortes

Atualizado em 30 de maio de 2023 às 0:06
Deltan Dallagnol no Roda Viva

No Roda Viva da TV Cultura, Deltan Dallagnol comportou-se, como era de se esperar, como um menino mimado. O deputado cassado foi incapaz de articular argumentos minimamente racionais sobre as mazelas da Lava Jato e ancorou-se num interminável lenga-lenga de normas e regras judiciais explicadas de forma ininteligível para tentar convencer a audiência de uma inocência menos que plausível. Ainda assim, falou praticamente sem ser interrompido.

Dallagnol se mostrou também um idiota motivado por editoriais da velha mídia e parece estar mergulhado em um delírio particular onde o sistema político inteiro – inclusive todos os ministros do TSE – teria se organizado para persegui-lo e jogá-lo no ostracismo, por vingança.

O único momento em que foi possível se discernir um ponto focal minimamente compreensível foi quando Dallagnol deixou claro que o norte de seus argumentos continua sendo a obsessão por Lula.

Deixou isso muito claro quando, perguntado sobre as ligações com a família Bolsonaro, praticamente remontou o PowerPoint insano contra Lula que o deixou famoso. Para o ex-deputado, Lula é quem apoia ditaduras, torturas e assassinatos. Bolsonaro, por sua vez, é um defensor dos valores cristãos.

Confrontado com as mensagens da Vaza Jato, Dallagnol ficou apoplético e entrou em parafuso. Apegou-se à tese infantil das “supostas mensagens com conteúdos distorcidos” e perdeu-se, nervosissímo, numa fala apressada e incompreensível, uma verborragia desagradável emoldurada por uma baba branca que se deslocava do centro para os cantos da boca.

O ridículo final foi uma tentativa constrangedora de justificar o fato de ter votado contra o projeto de lei que equipara salários de homens e mulheres que exercem as mesmas funções. Gaguejante, Dallagnol disse ter se preocupado com a possibilidade de, com a aprovação do projeto, um certo “efeito-reboque” restringir a contratação de mulheres nas empresas.

Ou seja, votou contra as mulheres para ajudar as mulheres.

Até para os padrões de leniência do Roda Viva foi um desastre.