O silêncio de Serra no rumoroso caso da fraude dos nadadores americanos. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 18 de agosto de 2016 às 16:43

Lochte-collage

 

O caso dos nadadores americanos que arrumaram encrenca bêbados em um posto de gasolina e inventaram que foram assaltados já ganhou o apelido óbvio: Watergate.

Podia ser uma bobagem. Mas o episódio extrapolou a arena esportiva e se tornou um escândalo também diplomático, com prejuízo para a imagem já desgastada da Olimpíada, do Rio de Janeiro e, claro, do Brasil.

A pergunta que não quer calar: onde está, nessa hora, o valente chanceler José Serra?

Na última segunda de madrugada, Ryan Lochte e James Feigen alegaram ter sido vítimas bandidos. Lochte contou que estava num táxi com os colegas quando chegaram homens armados portando distintivos policiais.

Para a NBC, ele deu detalhes: foram obrigados a deitar no chão e Lochte tinha uma arma na testa. Levaram a grana, mas deixaram o celular e as credenciais da Vila Olímpica.

No depoimento, os investigadores viram contradições e a apuraram uma provável falsa comunicação de crime.

Eles falaram que deixaram a festa às 4h. Câmeras de segurança da Casa da França, onde rolou a balada de Álvaro Garnero, mostra que saíram às 5h45. Chegaram às 6h56 na Vila.

A Justiça mandou apreender o passaporte de Lochte e Feigen, mas o primeiro já tinha voado de volta para os EUA. Outros dois sujeitos, Bentz e Conger, foram retirados do avião em que estavam a caminho de casa e intimados a depor.

Não havia ficado claro o motivo da fraude. Até que, na quinta, 18, surgiu o vídeo de um posto de gasolina na Barra da Tijuca com uma refrega entre os rapazes e seguranças.

Eles depredaram o banheiro e foram impedidos de ir embora. Deram uma grana — 20 dólares e 100 reais — à guisa de um “acordo” e zarparam.

Depois da história que Lochte contou à NBC, o bombardeio sobre a Olimpíada foi intenso. Não bastasse a tragédia cotidiana real da criminalidade do Rio de Janeiro, essa fantasia foi acrescentada. Ao longo da semana, foi manchete dos principais jornais e televisões. A colunista de esportes do USA Today disse que “a coisa mais esperta que Ryan Lochte fez foi sair da cidade”.

O New York Times escreveu que “a ideia de que atletas tão destacados poderiam ser roubados por policiais durante a Olimpíada causou um enorme constrangimento ao Brasil, enfatizando preocupações sobre abrigar os Jogos em uma cidade infestada pelo crime”. A corrupta polícia carioca avisou que vai enviar por ofício ao FBI uma lista de perguntas a Ryan Lochte.

O silêncio de José Serra é ainda mais barulhento quando se leva em conta que ele vive deblaterando sobre “nossos interesses”.

Não é pequeno expediente, veja bem. Trata-se, ao que tudo indica, de uma farsa orquestrada durante o mais importante evento esportivo do planeta.

Com sul americanos, ele não deixa escapar nada. A Venezuela está na presidência do Mercosul graças a um “golpe” (sim, vc leu direito), cravou ele.

Indignou-se depois que o ministro das Relações Exteriores do Uruguai o acusou de tentar comprar voto e de, com o Paraguai, fazer bullying com os venezuelanos.

Divulgou comunicados oficiais destinados a países que denunciaram o impeachment, como Cuba, Bolívia, Equador, El Salvador e Nicarágua usando termos contundentes como “falsidades”, “preconceitos” e “absurdo”. Já deu pitaco até sobre as ciclovias de Haddad.

Quando foram presos dez “terroristas” às vésperas dos Jogos, numa operação ridícula, JS sacou do bolso seu arsenal de guerra.

“São amadores? É provável que sejam amadores, mas têm que ser presos porque boa parte desse pessoal é amadora mesmo. A violência não exige profissionalismo, exige, nesse caso, fanatismo, doença mental”, falou.

É bonito como, diante desses coitados, o chanceler é valente. Sobre a crise deflagrada pelos nadadores americanos, nosso bravo careca não terá nada a declarar — também por que nada lhe será jamais questionado.