Quem primeiro ironizou foi o deputado estadual Paulo Fiorilo.
Em suas redes sociais, chamou o prefeito de “Bruno Surfistinha”, numa referência à escritora, ex-atriz pornô e ex-prostituta Raquel Pacheco.
O presidente do diretório municipal do PT reclamava do sumiço de Bruno Covas entre domingo e segunda desta semana, quando São Paulo literalmente amanheceu sob as águas do temporal que devastou a cidade.
O prefeito, que já havia se ausentado para curtir o carnaval em Salvador, emendou a balada e no sábado zarpou para a Europa em mais uma licença por motivos “pessoais” junto com seu amigo Gustavo Pires.
Enquanto a cidade mergulhava no caos, com duas mortes e outras 10 nos municípios do entorno, ninguém na prefeitura tinha autorização para falar sobre o paradeiro do prefeito. Falou-se inicialmente que ele estava em Portugal. Depois chegou a informação de que estava a caminho de Berlin.
João Doria resolveu pôr um basta na brincadeira.
Ligou para a secretária de Bruno e ordenou, segundo assessores próximos confidenciaram ao DCM.
“Manda o Bruno voltar para São Paulo já. Agora, nem um minuto a mais”.
Na terça, o prefeito estava de volta, com a cidade já se recuperando do caos, mas o tsunami continuava a fazer estragos na sua imagem pública. Desta vez, quem deu suas cacetadas foi o antigo aliado MBL (Movimento Brasil Livre).
O grupo repetiu o bordão de Paulo Fiorilo e acrescentou outros para embasar suas críticas: “Jaiminho”, uma referência ao personagem do programa do Chaves, um carteiro que estava sempre tentando “evitar a fadiga” e ainda chamou o secretário executivo Gustavo Pires de “primeira-dama”.
“No caso das enchentes, Bruno foi um irresponsável”, disse o vereador Fernando Holiday (DEM). “É como se a prefeitura estivesse nas mãos de um moleque”.
Desde o começo da atual gestão, em 2017, Bruno ficou um total de 108 dias longe da cidade, entre licenças particulares e viagens oficiais. Apenas no período como prefeito, em menos de um ano portanto, os dias ausentes somam 46, descontados a folia de Carnaval em Salvador e o bate-volta desta semana ao velho mundo.
A oposição aproveita para bater sem dó
Alfredinho, vereador do PT, fala em uma postura apática, sem força política e perfil administrativo para cuidar de uma cidade complexa como São Paulo.
“Qual é a marca dele como prefeito?”, pergunta. “Era continuar a bandeira das privatizações de Doria. Mas ela não andou, as coisas não acontecem e o resultado é uma cidade estagnada e sem saber para onde vai”.
João Doria já percebeu a inaptidão e começa a mexer seus pauzinhos. Nesta semana, seu secretário de Finanças, Henrique Meirelles, que concorreu à presidência pelo MDB, bateu o martelo com a equipe de marketing para viabilizar sua candidatura no ano que vem.
De São Vicente, Márcio França, que deu de lavada em Doria na capital na eleição para o governo do Estado, mantém os olhos acessos na possibilidade de concorrer à prefeitura.
O PT trabalha nos bastidores com Haddad como plano A. Outras opções são a mulher do ex-prefeito, Ana Estela Haddad, o ex-secretário municipal de Transportes Jilmar Tatto, os deputados Carlos Zaratini e Paulo Teixeira, e até mesmo o ex-ministro de Lula e Dilma, Aloizio Mercadante, que enviou nota ao DCM dizendo que não será candidato nem autoriza quem quer que seja a falar sobre o assunto em seu nome.
Seja quem for, o fato é que Bruno Covas, a pouco mais de 12 meses da disputa, não vive uma situação confortável.
Sua reeleição é considerada improvável pelos próprios correligionários, tanto que alguns, como Floriano Pesaro, por exemplo, que foi vereador, deputado federal e secretário de Estado, preferem ficar em casa a aceitar um cargo na prefeitura.
No percurso entre o elevador e a sala que Bruno usa para audiências, as pessoas são convidadas a olhar nas paredes fotos e reportagens do prefeito e do avô, o velho Mário Covas.
Em lugar de destaque, próximo da porta de acesso à sala principal, está emoldurada a reportagem da Vejinha SP de março do ano passado, quando o prefeito respondeu sobre estar ansioso para assumir o desafio de administrar a maior cidade do país e uma das mais complexas do mundo.
“É claro”, disse Bruno, rápido no gatilho. “Já viu criança quando vai para a Disney pela primeira vez? Estou igual”.
Dizem que, quando as crianças não aprendem em casa, a vida ensina.
Bruno pensou que estava indo para a terra do Mickey quando a realidade o levou para um lugar onde o bicho é bem mais feio do que ele podia imaginar