As mulheres estão denunciando assédio moral e sexual nas plataformas da Petrobras. Uma mulher consegue se defender de homens violentos numa plataforma?
Imagino cenas de terror. Eu e o fotógrafo Antônio Pacheco, de Zero Hora, passamos um dia numa plataforma da Petrobras, há muito tempo.
A Pargo, em Campos, uma das mais antigas, parecia uma geringonça de ferro improvável no meio do mar.
Como aquilo era sustentado por pernas cravadas a 300 metros de profundidade?
E como o pessoal aguentava ficar duas semanas embarcado, sem contato com ninguém, para depois retornar à terra, onde ficavam três semanas?
Ouvi relatos de gente que viu colegas irem para a cidade e, quando deveriam voltar, empacavam e não embarcavam no helicóptero. Desistiam, em nome dos filhos e da mulher.
Lembro que a plataforma tinha cozinheiras e telefonistas no meio de um monte de homens.
Uma telefonista se divertia com os homens numa pequena piscina, imitando a famosa banheira do Gugu.
Os homens e a moça brincavam nas folgas procurando um sabonete dentro d’água.
Era uma brincadeira consentida pela chefia. Me lembro de contarem o que faziam com naturalidade, e o que passavam era isso mesmo, que aquilo os relaxava.
E agora aparecem denúncias de assédio. O machismo bolsonarista contagiou as rotinas até nas plataformas da Petrobras?
O extremismo machista chegou a lugares em que as pessoas estão sob pressão constante ou sob tédio e ansiedade, com as famílias em terra?
Será que ainda existem banheiras do Gugu nas plataformas da Petrobras, onde há relatos de mulheres que dormem com chaves de fenda sob o travesseiro para tentar impedir a violência dos machos?
Dizer que são casos de exceção não resolve nada. São casos reais, e as vítimas existem.
É muito assustador e muito triste. Que a direção da Petrobras socorra as mulheres das plataformas.
E que os homens embarcados tenham a coragem de conter e denunciar colegas assediadores.
Texto originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes.