Volta e meia alguém ressuscita a discussão estéril e estúpida sobre o apegou ou rejeição de Lula à leitura.
Há algum tempo foi o noveleiro da Globo Aguinaldo Silva, que, mesmo autor rematado de lixo, acha que tem alguma autoridade para dar aula.
No início da semana, uma olavete que não sabe usar vírgulas se incomodou com uma notícia de que Lula teria lido 21 livros em 57 dias.
Ele teria que atravessar 55 páginas diariamente e isso seria “irrealista”. Candidatos ao vestibular transformaram a jovem paspalha em piada nacional.
Noves fora tudo, diminuir alguém pelo número de obras que leu é tão tolo quanto quanto achar que se é especialmente inteligente por ser um leitor contumaz.
O Brasil é o paraíso do savantismo, do idiota-prodígio capaz de decorar 75 mil linhas de qualquer coisa sem entender do que se trata.
Temer tem quatro livros publicados, Sarney ocupa a cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras desde 1980.
E daí?
A piada do Lula semi analfabeto é parte do pacote do preconceito tosco que o acompanha desde sempre.
Lula, que não é bobo, nunca fez questão de parecer intelectual. Deixa esse papel para, entre outros, FHC — e o resultado, convenhamos, não é lá muito brilhante.
Só alguém absolutamente sem noção acredita que Lula não lê. Basta prestar atenção no que ele fala para notar citações mais ou menos explícitas de figuras públicas que estuda.
Posto abaixo o testemunho do escritor Lira Neto, que produziu os três volumes da biografia definitiva de Getúlio Vargas.
Segundo Lira, Lula “fez uma análise muito elaborada e sofisticada” de sua trilogia, traçando “juízo de valor sobre determinados personagens”.
A cara de Boris Casoy e Marcelo Tas, visivelmente incomodados diante da peroração de Lira Neto, é um presente à parte.
Lula é o maior líder popular do Brasil. pic.twitter.com/iOwdxHRweP
— Décio Lima (@deciolimapt) June 8, 2018