Publicado originalmente no blog do autor
Os bolsonaristas adotaram o tictac como o som ameaçador preferido da extrema direita este ano. No primeiro semestre, quando Bolsonaro, Sara Winter e alguns generais brincaram com a ideia do golpe, só o que se ouvia era tictac.
Bolsonaro sonhava em ser um presidente com amplos poderes, sob a proteção dos militares, e seus militantes civis anunciavam pelas redes sociais que os novos tempos estariam chegando.
Era tictac todos os dias, para qualquer bobagem contra Alexandre de Moraes ou Rodrigo Maia. Bolsonaro teria o controle do Supremo e do Congresso, e as esquerdas seriam dizimadas.
Toda insinuação sobre episódios que poderiam ampliar os poderes de Bolsonaro era precedida do tictac.
Mas Bolsonaro não conseguiu levar o blefe adiante, Sara Winter foi presa e os generais se aquietaram nas trincheiras do silêncio.
Agora, há outro tictac, desta vez nos ouvidos dos bolsonaristas. É o tictac da bomba-relógio que João Doria largou no colo de Bolsonaro. Uma bomba com a data de 25 de janeiro.
Doria repetiu no sábado que naquele dia estará iniciando a vacinação com a CoronaVac em São Paulo. O tictac perturba Bolsonaro e os que ele mobiliza para sabotar a vacinação.
A partir deste domingo, faltarão 43 dias para o início da imunização com a vacina chinesa. Cairá numa segunda-feira. Até lá, Bolsonaro terá de pensar num plano que desative a bomba.
O governo já fez duas tentativas. Anunciou que a Anvisa leva pelo menos 60 dias para aprovar uma vacina. E depois alertou aos governadores que Brasília deve centralizar o plano todo, ou seja, Doria não tem autonomia para decidir nada.
Mas é cada vez mais complicada a situação de Bolsonaro e do que a Folha definiu como o seu “círculo de patifes”.
Neste sábado à noite, 36 pesquisadores acusaram os tais patifes de usarem seus nomes para tentar validar um plano furado de vacinação, divulgado horas antes.
É a denúncia de mais um estelionato cometido pelos que agora têm pressa em dizer que existe um planejamento.
Os cientistas informaram que não validaram nada, não assinaram o documento e não sabem por que o governo usou seus nomes.
Todos nós sabemos. Bolsonaro está sob o som do tictac de Doria, e agora vale tudo, inclusive usar os nomes de profissionais respeitados para tentar salvar uma fraude.
O plano fajuto de vacinação de Bolsonaro foi feito para enganar o Supremo e os trouxas, entre as quais a Globo, que divulgou a farsa com pompa no Jornal Nacional.
Bolsonaro carrega o som do tictac por onde anda. Outros podem sair feridos. Porque a bomba-relógio de Doria está no colo de Bolsonaro e Bolsonaro está no colo de todos os militares, e não só de Eduardo Pazuello.