Não fui eu que disse. Foi a Sheherazade loira, Joice Hasselman, da TV Veja. Ela fez a seguinte avaliação da entrevista concedida por Marina ao Bom Dia Brasil.
“Marina nadou de braçada. Ela falou o que quis e bem entendeu. Não foi interrompida e nem colocada contra a parede (…). Em condições tão favoráveis, fez bonito: sorriu, brincou e atacou. Cada vez que uma bola era levantada, Marina cortava e de forma certeira. E o alvo era a adversária, Dilma Rousseff.”
Joice estava, naturalmente, elogiando a entrevista e a entrevistada. Fora rugas e estrias, provavelmente a coisa que Joice mais abomina na vida é Dilma.
Não havia, portanto, nenhum ar condenatório em sua avaliação da sabatina de Marina no Bom Dia Brasil.
E no entanto essa diferença brutal de tratamento é o triunfo do antijornalismo e da desonestidade intelectual.
Em favor de Bonner e Poeta, registre-se que a agressividade deles foi dirigida igualmente a todos os candidatos que tiveram o desprazer de passar pelo Jornal Nacional.
Mas no Bom dia Brasil as coisas foram distintas, como notou e aprovou Joice Hasselman.
Até Míriam Leitão estava sorridente, doce, acolhedora. Maternal.
Suas perguntas na área econômica – seu “terreno”, como ela fez questão de dizer – foram daquele tipo que uma mãe faz ao filho.
Por exemplo, ela tocou nos direitos trabalhistas. Melhor, levantou a bola, como disse a nova Sheherazade.
Que significa “atualizar”?
Sabemos todos que atualizar, na cabeça dos mentores econômicos de Marina, é subtrair direitos trabalhistas.
Ninguém no time de Marina pensa em mexer na CLT para aperfeiçoar as conquistas dos empregados.
Da última vez que um governo “atualizou” a CLT, sob o general Castelo Branco, pouco depois da instauração da ditadura militar, foi eliminada a estabilidade de que gozavam os empregados depois de dez anos de trabalho.
Mas isso não dá votos, é claro, senão entre donos de empresas. Foi exatamente a um grupo deles que Marina fez a promessa.
Marina disse que não disse o que tinha dito, diante da reação negativa a seu anúncio de “atualizar” os direitos.
No Bom Dia Brasil, com a ajuda de Míriam Leitão, ela teve a oportunidade de completar seu giro espetacular na questão.
Na verdade, afirmou Marina, não apenas não serão mexidos os benefícios de quem tem emprego regular, de carteira assinada, como eles serão estendidos aos que trabalham na informalidade.
Nesta pergunta, e em todas as demais, Marina esteve sempre numa zona de monumental conforto.
Não houve um único momento de atrito. Ali estava, você poderia pensar, uma família feliz e harmoniosa.
Por que tamanha diferença de tratamento?
Há, primeiro que tudo, a vontade da Globo de ver Dilma ser derrotada, e Marina é agora a grande esperança.
Mas existe também uma coisa de mulher. Ou de mulheres. Uma antipatia mútua, uma hostilidade maldisfarçada.
Você vê, na entrevista de Dilma, que Míriam Leitão não gosta dela. Repare nas expressões. Se há algo em que denunciamos nossos sentimentos, é exatamente isso – as expressões.
Não me pareceu unilateral. Tive a forte impressão de que Míriam Leitão é correspondida por Dilma.
Se fosse no Velho Oeste, talvez as coisas terminassem num duelo ao por do sol.
Não entendo por que Dilma se submete às excruciantes entrevistas da Globo, francamente.
Lembranças de um tempo remoto em que a Globo fazia e desfazia presidentes? Talvez.
Mas isso ficou lá para trás.
A internet trouxe variadas possibilidades de um candidato se conectar com os eleitores, das redes sociais a sites independentes. Fora isso, Dilma tem um espaço generoso no programa eleitoral gratuito.
Por que se submeter à violência torrencial da Globo? Apenas para lembrar, na sabatina do jornal Globo, o colunista Ricardo Noblat conseguiu a proeza de mandar Dilma falar menos.
Dilma perde muito mais do que ganha – até em paz – ao se submeter às múltiplas sabatinas da Globo.
São sabatinas na tevê, no jornal, na internet, no rádio – tantos veículos distintos que no fim você apenas conclui que é hora de desfazer o monopólio da Globo na mídia.
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