O troféu Raça Negra para Doria era tão descabido que nem ele compareceu. Por Donato

Atualizado em 21 de novembro de 2017 às 15:28
Doria deu forfait

Em tempos de acaloradas discussões sobre o ‘lugar de fala’, é surpreendente – negativamente falando – que João Doria seja homenageado com o troféu Raça Negra.

O prefeito, cuja administração tinha feito o possível para dificultar a marcha do Dia da Consciência Negra organizada por diversos movimentos sociais e entidades do movimento negro, que enviou um intimidador aparato policial e ameaçou multar os grupos em R$ 6 mil (cada um) caso insistissem em sair com o caminhão de som, que tentou acabar com a festa que ocorre tradicionalmente há 14 anos, foi homenageado no mesmo dia.

O que Doria fez para merecer o troféu? O DCM encaminhou dois emails para a Afrobras, mas não obteve resposta até o momento da publicação deste artigo.

A Afrobras (Sociedade Afrobrasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural) é a Organização Não Governamental que organiza a premiação ocorrida desde o ano 2000 no Dia Nacional da Consciência Negra cujo troféu é concedido a ‘personalidades e autoridades negras e não negras, nacionais e internacionais, por exaltar, enaltecer e divulgar o valor das iniciativas, ações, gestos, posturas, atitudes, trajetórias e realizações que tenham contribuído para aprofundamento e ampliação da valorização da raça negra’.

A ONG reúne ‘intelectuais, autoridades, personalidades, negras ou não, e tem por finalidade trabalhar pela inserção socioeconômica, cultural e educacional dos jovens negros brasileiros’ visando ‘a valorização da raça negra e demais ações que defendam os direitos humanos’.

Ótimo. Continua valendo a pergunta: O que Doria fez para merecer?

O prefeito é a antitese desses preceitos. Tão logo assumiu a prefeitura, extinguiu a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial. E desde então o que se viu foi uma avalanche de medidas que afetam predominantemente as classes mais ppobres (compostas majoritariamente por negros):

Jogar água em moradores de rua em pleno inverno, corte no transporte escolar, corte no leite, ‘sugestão’ de substituir a merenda escolar por algo similar a ração, mandar o trator derrubar primeiro e depois verificar se há habitante na edificação pobre. A lista de ações higienistas é espetacular e não deixa dúvidas que o prefeito faz uma gestão nitidamente voltada para as camadas mais ricas.

É lamentável que a Afrobras, que administra a Faculdade Zumbi dos Palmares, a primeira instituição de ensino superior comunitária do país, que tanto já fez e muito ainda faz para inclusão do negro no mercado de trabalho e no ensino superior, se preste a fazer um ‘agrado desses’.

E nem é a primeira escorregada. Há alguns anos o governador Geraldo Alckmin recebeu na Zumbi dos Palmares a Comenda de Ordem do Mérito Cívico Afro-Brasileiro. Algo tão pertinente quanto o príncipe Charles sambando com passistas no Rio de Janeiro.

Justiça seja feita: a premiação era tão descabida que nem João Doria compareceu para receber. O simancol do prefeito, pelo menos, está funcionando bem.