Uma homenagem ao mais famoso jogador de pôquer do século XX, Thomas Austin Preston, morto há um ano.
Na manhã de 29 de abril do ano passado, todos os jogadores de pôquer acordaram órfãos. Uma das maiores lendas do jogo, Thomas “Amarillo Slim” Preston, morreu aos 83 anos após uma batalha contra um câncer no cólon. O magrelo de Amarillo, na verdade nascido na pequena cidade rural de Johnson, no Arkansas, foi talvez o mais famoso jogador de pôquer do século XX, antes do boom do Texas Hold’em.
Com sua personalidade extravagante, Slim ganhou notoriedade ao conquistar o título mundial na World Series of Poker (WSOP) de 1972. Ao faturar o título, ele recebeu um convite para ir ao The Tonight Show, um dos mais populares programas da televisão americana, onde acabaria fazendo 11 participações ao longo da vida — e levou o pôquer ao mainstream pela primeira vez na história do jogo. Pode-se dizer que, de todas as celebridades das cartas, Slim foi a primeira deles.
“Se alguma coisa for alvo de controvérsia, eu aposto nela ou me calo”, diz Slim em suas memórias, cujo prefácio da edição brasileira tive o prazer de escrever. O livro chama-se O Grande Malandro. “E como discutir não é lá coisa de cowboy, já fiz várias apostas nessa vida. Mas quer saber, parceiro, em minha humilde opinião, eu não sou um apostador qualquer. Nunca saio em busca de almas inocentes para fazê-las de trouxa. Eu procuro campeões e os transformo nisso.”
Slim não exagerava quando afirmou isso. Em sua carreira de apostador, ele derrotou campeões mundiais na mesa de ping-pong; atletas profissionais no salto em distância; jogadores de basquete no arremesso livre; e até mesmo cavalos em corridas de 100 metros rasos. Como? Na malandragem. As partidas de ping-pong, por exemplo, eram jogadas com panelas no lugar das raquetes; e no arremesso livre, uma bola de futebol americano substituía a tradicional de basquete.
A morte de Slim lembrou-me de certa passagem numa história do escritor Isaac Bashevis Singer. O personagem principal, em ex-ator decadente e com problemas de saúde, diz o seguinte a um amigo: “Todos nós jogamos xadrez contra o destino. Ele mexe uma peça, nós mexemos outra. Ele tenta nos dar um xeque-mate em três lances, nós tentamos impedir. Nós sabemos que não podemos ganhar dele, mas o que nos move na vida é dar a ele uma boa briga.”
Slim, por 83 anos, deu.
Mas em abril, o river bateu para o destino.