O que é pior que um assassino vestido de policial?
Você espera de um policial proteção. Seu uniforme é um símbolo universal de combate ao crime, um emblema indelével a despeito das delinquências que policiais possam, individualmente, cometer, aqui e ali.
Uma das melhores histórias de Agatha Christie – uma peça em cartaz há décadas em Londres — traz exatamente isso: o policial como o assassino. Daí o choque.
Foi exatamente este o caso da tragédia da Noruega.
O planejamento foi minucioso.
O alvo do assassino foi o Partido Trabalhista norueguês, no poder, ao qual ele atribui incapacidade de lidar com o “avanço muçulmano”.
Primeiro, foi a bomba em Oslo, para desmoralizar a administração trabalhista. Depois, o massacre de jovens ligados ao partido reunidos numa ilha para gozarem alguns dias das férias de verão. Ele queria dizimar no berço futuras lideranças trabalhistas.
Vi o relato de um garoto sobrevivente. Ele disse que o policial — alto, loiro, olhos azuis, um espécime perfeito segundo a ótica nazista — pediu aos jovens na ilha que se reunissem para lhes passar informações sobre a bomba de Oslo.
Eles obedeceram.
E então o assassino abriu fogo por noventa minutos. Uma morte por minuto, em média.
Segundo seu advogado, o assassino quer ser interrogado vestido com um uniforme. Ninguém sabe exatamente qual é este uniforme. Sequer o advogado.
De policial não haverá de ser.
Tão socialmente avançada é a Noruega que sobre ele pesa uma pena máxima de 21 anos de prisão – um fato que tem enchido de perplexidade muita gente no mundo todo, eu incluído.