O presidente Jair Bolsonaro é aquele tio moralista que os mais íntimos sabem ser um contumaz consumidor e compartilhador de vídeos de sacanagem.
Sua postagem de um vídeo baixaria de modo a condenar os blocos de rua (como se todo bloco fosse uma putaria desenfreada), travestida de um tom indignado, não convenceu ninguém.
“Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conslusões (sic)”, escreveu ele em sua “linguagem particulada” (estou parafraseando-o, quem disse essa outra aberração foi ele mesmo por ocasião do último Enem), que não segue regência alguma.
No fim das contas, quem foi o principal agente a viralizar o material? Se não fosse a postagem do presidente, quantas pessoas teriam assistido aquilo?
O vídeo em questão finaliza com uma cena de ‘golden shower’, que Bolsonaro cinicamente fingiu não saber o que é.
Logo ele que admitiu utilizar o auxílio-moradia para ‘comer gente’. Foi tipo João Doria dizer que não sabe o que é suruba.
Maior festa popular do país, o Carnaval esteve na mira dos tuítes sem noção do presidente. Fiel a seu estilo diretor de escola de coroinhas, atacou Caetano Veloso e Daniela Mercury e atingiu o ápice da bizarrice ao postar o vídeo pornográfico que ele definiu ser o carnaval ‘de verdade’ que precisava ser mostrado e que as pessoas ‘tomassem suas prioridades’, seja lá o que isso quer dizer.
Para variar, Bolsonaro é incapaz de medir consequências.
Ele teve a capacidade de infringir ao mesmo tempo regras do Twitter (conteúdo impróprio que pode lhe cancelar a conta) e da Constituição Federal (proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo).
O deputado Alessandro Molon foi certeiro: “Os tuítes de Bolsonaro são, do início ao fim, incondizentes com o cargo que ocupa. Um presidente tem obrigação de agir com um mínimo de decoro. Ele demonstra não ter postura ou responsabilidade. Totalmente sem noção. É inacreditável”.
Pedidos por impeachment já brotam em larga escala.
A julgar pelas reações e manifestações espontâneas de hostilidade a Bolsonaro com apenas dois meses de gestão, este tem tudo para ser o governo mais impopular da história.
Ver a Marquês de Sapucaí em peso aos gritos de “ei Bolsonaro, vai tomar no cu”, foi significativo.
Nos blocos de rua, o canto “ai ai ai, Bolsonaro é o carai” já é a marca do carnaval 2019.
Cereja do bolo, um grupo teve a coragem de vestir-se de laranja e ir até o condomínio na Barra da Tijuca onde mora o presidente e cantar uma versão atualizada da célebre marchinha: “doutor, eu não me engano, o Bolsonaro é miliciano”.
A cruzada moralista bolsonarista é tema para psicólogos e psiquiatras dissertarem sobre taras inconfessáveis.
Mas que a atitude destrambelhada de postar um vídeo pornográfico seja o início de um processo – bem sucedido – de impeachment. Esquindô, esquindô.