O vírus da censura é o da doença da mentira. Por Fernando Brito

Atualizado em 5 de junho de 2020 às 19:07
Eduardo Pazuello. Foto: Agência Brasil | Divulgação

Publicado originalmente no Tijolaço:

Por Fernando Brito

Renato Souza, do Correio Braziliense, confirma o que já era voz corrente: o atraso para após as 22 horas do anúncio oficial do Ministério da Saúde sobre o número de casos de Covid-19 e das mortes por ele causadas foi ordem expressa de Jair Bolsonaro, já dada há tempos e só atendida agora, depois de implantada a gestão militar do órgão:

A estratégia da Presidência é evitar que os dados estejam disponíveis no horário dos telejornais noturnos, período em que as televisões têm maior audiência, pois muitos dos brasileiros estão em casa. Mesmo sem anúncio oficial, a ordem foi dada para que os dados sejam enviados à imprensa apenas no final da noite, mesmo que estejam prontos às 19 horas.
A intenção de atrasar a divulgação dos dados existe desde a gestão do ex-ministro Luís Henrique Mandetta. No entanto, à época, o titular da pasta se recusou a acatar a ordem alegando que geraria forte impacto na resposta a pandemia.

Trata-se, é óbvio, de uma tentativa de aplicar à informação a regra do do “morrer é o destino de todos” fazendo a população não se dar conta de que temos, hoje, seis tragédias de Brumadinho a cada 24 horas e, pelo número de casos, as que virão dentro de poucos dias.

Como disse ontem, se a realidade é ruim, demita-se a realidade.

É claro que isso não produz nenhum resultado, senão o de piorar a situação com a perda de uma atitude prudente por parte da população, cujos índices de isolamento, ontem, chegaram ao menos nível desde o início deste pesadelo e, com isso, agravar a população.

Ao ponto de fazer o “padrinho” Donald Trump citar hoje o Brasil (e a Suécia, que Bolsonaro cita como exemplo de sucesso) como referências de quantas mortes as políticas de semi-isolamento feitas nos EUA – e ausentes aqui – evitaram mais de um milhão de mortes.

Quando Trump, que coleta os resultados de um morticínio sem tamanho no seu país critica o desempenho de um governo é sinal que, para além do que ele produziu, o desastre por aqui pode ser muito maior do que aqueles que pensamos nos cenários de maior horror.