“Vocês não escolheram? Agora tem que esperar o material desgastar”.
Tucanos estão recorrendo a uma máxima do velho Mário Covas para definir a situação de João Doria no PSDB.
O gestor, que vende publicamente a tese de que manda e desmanda no partido, está desgastado e sem aliados internos.
Nem o presidente Bruno Araújo faz o que ele manda.
O caso de Aécio é um exemplo.
Semana passada Doria espalhou que o deputado mineiro teria até amanhã, quinta, para sair – caso contrário seria expulso. Cascata.
Bruno Araújo já informou que quem vai avaliar a situação de Aécio é o Conselho de Ética, que ainda será instalado.
E mais: disse que pretende seguir as regras do novo colegiado, que prevê expulsão apenas após uma decisão judicial transitada em julgado – e este não é o caso do mineirinho.
Aécio é o padrinho político de Antônio Anastasia, atualmente primeiro vice-presidente do Senado. Controla o PSDB de Minas e carrega nas costas o legado tucano desde a sua fundação, há 30 anos.
A despeito de seus problemas na Justiça, é querido e respeitado por figuras como Fernando Henrique, Geraldo Alckmin e até por líderes de outros partidos, como Rodrigo Maia, por exemplo, que sonha em tê-lo nos quadros do DEM.
O caso Aécio serve para exemplificar o quanto Doria vem falando para as paredes.
Há no PSDB quem garanta que é mais fácil Aécio ficar e Doria ter de pedir o boné.
Nem o aceno que fez a Alexandre Frota é levado a sério: o ex-ator pornô e ex-bolsonarista pode até ir para o partido, mas esse não é o desejo dos filiados. Procurando com lupa, você não encontra nenhum simpatizante da ideia além de Doria.
Até no terceiro escalão o aceno a Frota pegou mal: com domicílio eleitoral e base na região de Cotia – mora na Granja Vianna -, Frota bate de frente com os interesses de Rubens Furlan, todo-poderoso prefeito de Barueri que vê na presença dele um obstáculo para as pretensões da filha Bruna, deputada federal e uma das vice-presidentes do diretório nacional.
No diretório municipal de São Paulo, controlado por Bruno Covas, o sentimento da militância é de desalento. A ascensão do gestor levou o partido à letargia. Não há movimento, não há estratégia, não há comando.
Semana passada, cardeais fizeram chegar a um grupo de filiados um texto do deputado Luiz Paulo, do Rio de Janeiro, tecendo críticas ferozes a Doria pela intervenção no Estado através da destituição do diretório e nomeação de Paulo Marinho, amigo de Bolsonaro, como novo mandatário.
“Se juntar os Três Patetas não cabe para definir João Doria”, me disse nesta quarta, 14, um militante histórico ligado à família Covas.
Segundo ele, a melhor definição do PSDB é uma piscina: você olha por cima a água está clara e calma, enquanto lá no fundo está acontecendo coisas que os eleitores nem imaginam.
A última informação, além de Alexandre Frota, é que Doria teria acenado com espaço para Sergio Moro, caso o ministro queira deixar a base de Bolsonaro. No governo, ok. Basta uma canetada e o ex-juiz de Maringá está dentro.
Já no partido há quem duvide que tenha espaço.
Doria tomou o PSDB de assalto, pôs no bolso e imagina que vai conseguir manipular a legenda até alcançar a presidência, em 2022.
Os mais experientes preferem lembrar do fiasco que foi a passagem dele pela prefeitura antes de apostar todas as fichas nesta hipótese: Doria é desprezado pelos paulistanos – tomou uma surra de Márcio França na capital no ano passado – e administrativamente deixou três dezenas de processos que estão tirando o sono de Bruno Covas, a ponto de fazer com que o ex-vice pense na possibilidade de não concorrer à reeleição no ano que vem.
O gestor que apareceu feito um furação começa a dar sinais de que pode virar pô de traque.
A velha-guarda aposta na máxima do velho Covas. É só uma questão de tempo para o material se desgastar.