Termina na próxima quarta-feira (9), a campanha de arrecadação para a publicação do livro “Retomadas: o debate”. A mobilização começou após o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) vetar fotos e documentos históricos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), de André Vilaron, do acervo João Zinclar e de Edgar Kanaykõ do Núcleo Retomadas, integrante da exposição Histórias Brasileiras.
Mesmo com a anulação dos vetos do museu, e a realização da exposição que ficou em cartaz até este último dia 30 de outubro, as curadoras do Núcleo, Sandra Benites e Clarissa Diniz, decidiram tornar pública toda a trajetória empenhada a partir deste episódio emblemático da história das artes brasileiras.
A publicação, que será feita pela editora Expressão Popular, vinculada ao MST, se soma a uma série de iniciativas que dão amplitude aos ecos que não foram abafados pela institucionalidade, e acabaram aprofundando o debate da arte e sobre o engajamento que se trás com ela.
Para contribuir com a realização da publicação do livro, basta acessar o site catarse (https://bit.ly/3Ul5wNo) e escolher uma modalidade de contribuição, que inclui recompensas como obras de arte, artigos do MST, e inclusive o próprio livro após a edição finalizada, prevista para 2023.
Retomadas: o debate continua
Questionada sobre a relação entre os vetos e as reflexões sobre o trabalho da curadoria nas artes – em contraponto ao que se vislumbra enquanto um trabalho glamouroso na esfera artística – Clarissa afirmou que “a institucionalidade da arte é violência”.
Diniz ainda afirma que diante das interdições impostas pelo MASP, “recuar era não perpetuar essa violência”; mencionando que o papel da curadoria é também “atribuição de sentido do que a arte pode fazer, arte como território, arte enquanto alianças de sentidos coletivos, sociais”.
Para a curadora Sandra Benites, o que esteve em jogo sobre o retrato das Histórias Brasileiras – tema central da exposição no Masp, sobre o marco dos 200 anos da Independência do Brasil – “não é só a memória do passado, mas do futuro. A sociedade Juruá [branca], não indígena não entende isso, principalmente as instituições”.
Sobre a resistência aos vetos, Sandra menciona que foi preciso ter coragem. “A gente vem combatendo esse silenciamento, enquanto corpo racializado, como mulher, indígena. Me vi enquanto uma mulher silenciada e isso levou a gente a tomar coragem, não sabíamos que isso iria dar repercussão. Como eu já venho de luta, eu carrego esse corpo coletivo, e fui pela maioria, enquanto indigena”.
— VIDRAÇA TAMBÉM É GENTE, GENTE… (@VidrsGente) November 4, 2022