No ano passado, a Odebrecht confessou ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos que havia pago 59 milhões de dólares em propinas para políticos do Panamá.
Na sexta-feira, o ex-superintendente da empresa naquele país, André Campos Rabello, deu outros números, bem superiores ao que a Odebrecht declarou ao Departamento de Justiça norte-americano por ocasião do acordo de colaboração firmado lá. Segundo Rabello, foram 84 milhões de dólares.
Rabello forneceu detalhes dos subornos no depoimento que prestou ao juiz Óscar Carrasquilla, do Panamá, via skype. Rabello falou diretamente do Consulado do Panamá em São Paulo, juntamente com dois ex-executivos da empresa, Olívio Rodrigues Júnior e Luiz Eduardo da Rocha Soares, que trabalhavam no Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht.
Os depoimentos demoraram mais de dez horas e selaram o acordo de colaboração negociado com o Ministério Público do Panamá, país onde as denúncias de corrupção envolvendo a empresa brasileira já motivaram protesto nas ruas. “Fuera, Odebrecht – ratas, coimeros (pagadores de subornos), traficantes de influencias corruptos”, dizia uma das faixas.
Segundo o jornal panamenho La Prensa, a maior parte dos subornos — 50 milhões de dólares — começou a ser paga em 2009 aos filhos do então presidente eleito do Panamá, Ricardo Martinelli. Parte do pagamento foi feita em contas na Suíça. A outra parte, maior, foi paga em Andorra.
O depoimento confirma o que disse o advogado Rodrigo Tacla Durán, em entrevista ao jornal El País, da Espanha. Ele citou a Banca Privada de Andorra como a instituição bancária onde a Odebrecht fazia pagamentos para autoridades panamenhas, através de transferências do Meinl Bank de Antígua. Na entrevista, ele também alertava para os números inconsistentes fornecidos pela empresa brasileira.
Os subornos seriam muito maiores do que os revelados tanto ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos quanto para os procuradores da Operação Lava Jato e o juiz Sergio Moro. Fraudes e inconsistências nos números da Odebrecht têm relação direta com o pagamento de multas estabelecidas em acordo, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
No Brasil, os acordos de delação homologados pelo juiz Moro chamam a atenção pelos valores relativamente baixos. Um exemplo é o acordo de delação premiada homologado pelo juiz Sérgio Moro, em julho do ano passado, com os executivos Vinicius Veiga Borin, Luiz Augusto França e Marcos Bilinski.
Os três eram sócios do Meinl Bank de Antígua, banco que a Odebrecht usou para pagar propinas no exterior. Pelo acordo, eles teriam que pagar multa de 1 milhão de reais cada um (cerca de 315 mil dólares).
É pouco perto do montante que o banco movimentou para abastecer os cofres do submundo da política. Pelo banco, passaram mais de 1,6 bilhão de dólares destinados a subornos.
Além disso, o acordo ignorou que o Meinl Bank de Antígua tinha mais dois sócios ocultos, estes também executivos da Odebrecht: Luiz Eduardo Soares e Fernando Migliaccio.
O depoimento prestado à Justiça do Panamá mostra que a Odebrecht ainda não contou tudo o que fez. Mentiu ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Mentiu também no Brasil.