Morto em decorrência da covid-19, Agnaldo Timóteo é autor de três hinos gays lançados em plena ditadura — muito antes, portanto, de “I Want to Break Free”, do Queen, de 1984.
Escritas por ele mesmo, o que não era comum em sua carreira, as canções “Galeria do Amor” (1975), “Perdido na Noite” (1976) e “Eu, Pecador” (1977) falam de sua experiência homossexual.
“Galeria do Amor” homenageia a Galeria Alaska, uma famosa boate gay do Rio de Janeiro, num tempo em que os “entendidos” se entendiam.
Numa noite de insônia saí
Procurando emoções diferentes
E depois de algum tempo parei
Curioso por certo ambiente
Onde muitos tentavam encontrar
O amor numa troca de olhar
Na galeria do amor é assim
Muita gente à procura de gente (…)
Onde a gente que é gente se entende
Onde pode se amar livremente
Em “Eu, Pecador”, ele aborda a culpa cristã por sua sexualidade:
Senhor, eu sou pecador
e venho confessar porque pequei
Senhor, foi tudo por amor
Foi tudo por loucura
mas eu gostei
Senhor, não pude suportar
a estranha sensação de experimentar
Um amor por Vós concebido
Um amor proibido pela vossa lei
Em entrevista ao jornalista e escritor Paulo Cesar Araújo, ele disse que “Galeria do Amor” era “audaciosa demais para a época”.
“Mas eu não quero nem saber, eu tinha que fazer e fiz”, falou.
Nunca saiu do armário totalmente, no entanto.
Questionado pela debilóide Luciana Gimenez, foi misterioso: “Nem assumido, nem desassumido — apenas Agnaldo Timóteo”.