Luciana Genro tem uma grande virtude: ela pensa diferente.
Mas esta qualidade se converte em defeito quando você, depois de pensar diferente, age sem refletir.
Foi o que aconteceu com Luciana Genro com sua proposta de eleições gerais para 2016.
Ela tem um ponto poderoso: o apodrecimento do mundo político brasileiro. Quem poderá contestá-la?
O homem mais poderoso do país, e não é de hoje, é a quintessência da corrupção e do descaro, Eduardo Cunha.
Faz já mais de dois meses que os suíços entregaram às autoridades brasileiras provas devastadoras da roubalheira de Eduardo Cunha.
Delatores contaram histórias tenebrosas: medo de morrer caso citassem Cunha em seus depoimentos. O mesmo método terrorista de intimidar pessoas que podem causar problemas foi utilizado contra o relator da Comissão de Ética que examina o caso Cunha.
O relator narrou as ameaças que recebeu, destinadas não apenas a ele mas a membros de sua família.
E, com tudo isso, Eduardo Cunha está não na prisão, mas na presidência da Câmara, manobrando para salvar a si próprio e para derrubar um governo eleito por mais de 54 milhões de pessoas.
É dentro desse quadro que se deve entender a proposta-bomba, ou o desabafo pungente, de Luciana Genro.
Em certas situações extremas, é melhor você parar tudo para reiniciar do zero.
Pode ser este o caso brasileiro – sobretudo se o projeto de golpe se consumar.
O país será atirado a um caos social se os golpistas triunfarem. E a proposta de Luciana evita isso.
Adicionalmente, em eleições sem patrocínio de empresas, políticos como Eduardo Cunha tendem a sumir do mapa.
Do pó vieram, ao pó retornarão.
Em compensação, políticos como Jean Wyllys tenderão a se multiplicar. O fator dinheiro não mais penderá a favor de paus mandados da plutocracia.
Como não ver este cenário com entusiasmo, diante das cenas pavorosas que o Congresso apresenta todos os dias aos brasileiros?
Consigo ver Luciana Genro vibrando ao arquitetar sua ideia.
Onde ela falhou? Na execução. Primeiro, ao se precipitar, ela deixou de ganhar o apoio de seus próprios companheiros do PSOL. Não lhes apresentou o projeto. Não lhes vendeu seu sonho.
No mesmo dia em que ela postou sua proposta, Jean Wyllys já se manifestou contra. Pouco depois, o diretório nacional do PSOL fez o mesmo.
O segundo erro veio nas explicações. Luciana Genro disse que o povo, insatisfeito, não merece esperar mais três anos.
Aí ela acabou de se auto-implodir. Ora, se a cada momento que o povo estiver infeliz se realizarem eleições gerais, não faremos outra coisa que não ir às urnas.
Aí seu maior pecado: uma explicação infantil e inconsistente.
Seu projeto, embora nascido de bons propósitos, é inexequível.
Onde, a despeito de tudo, ela acertou, e muito, é no diagnóstico. O cenário é, definitivamente, desolador. E em circunstâncias extremas as melhores soluções podem ser também extremas, como ensinou Guy Fawkes, o libertário britânico que há 500 anos tentou acabar com todo o Parlamento do rei Jaime I, e não apenas figurativamente.
O debate gerado por Luciana Genro pode jogar luzes onde só existem sombras, uma vez que é inegável que ninguém consegue achar soluções para o horror em que se transformou a política brasileira.
Luciana, ao menos, tentou, e merece aplausos por isso.