Onde Murdoch pecou

Atualizado em 17 de julho de 2011 às 6:30
O pedido de desculpas de Murdoch em minhas mãos

“Nosso negócio foi fundado sob a premissa de que uma imprensa livre e aberta é uma força positiva na sociedade.”

Este é um trecho do pedido público de desculpas de Rupert Murdoch, dono de um dos maiores impérios de mídia do mundo, a News Corp.

As desculpas apareceram na forma de um anúncio de página inteira assinado por Murdoch e veiculado nos principais jornais britânicos.

Murdoch com Wendi, a terceira mulher, 40 anos mais jovem

Elas se devem ao jornalismo criminoso que vinha sendo feito pelo tablóide News of the World, de Murdoch. O que mais indignou os ingleses foi a descoberta de que o NW invadiu a caixa de mensagens do telefone de uma garota de 13 anos desaparecida em busca de furos. Recados foram deletados para que houvesse espaço para novas mensagens. Isso ajudaria os repórteres. Para a família da garota, que afinal se soube que fora assassinada, foi uma tragédia dentro da tragédia. A movimentação na caixa postal trouxe esperanças de que ela estivesse viva.

Poucos dias depois dessa revelação, o NW  — de 168 anos – foi abruptamente fechado por Murdoch.

Não foi suficiente para mitigar a indignação.

Murdoch foi obrigado a desistir de um investimento bilionário para tomar o controle da BSkyB, a maior empresa de tv paga do Reino Unido.

Também não foi suficiente.

Murdoch fez uma visita à família da garota morta, na qual pareceu, segundo relatos, “transtornado”, levando as mãos à cabeça repetidas vezes.

Ainda não foi suficiente.

Ele foi obrigado a se desfazer de sua queridinha, Rebekah  Brooks, 43 anos, uma jornalista que com sua cabeleira rubra esvoaçante invadiu espetacularmente o mundo masculino dos tablóides londrinos.  Rebekah dirigiu o News of the World aos 32 anos, foi subindo e agora era diretora geral do grupo de Murdoch no Reino Unido. Foi na época de Rebekah que o telefone da garota desaparecida foi grampeado.

A dona da cabeleira rubra afinal dançou

Murdoch a segurou mais do que seria razoável.  O próprio Times, o jornal “sério” de Murdoch, saudou a queda de Brooks como um sinal de que a empresa afinal entendera o tamanho do problema em que está metida. Um jornal atribuiu a Elizabeth, filha de Murdoch e grande amiga de Rebekah, a seguinte frase: “Ela fodeu o nosso.” Ela é Rebekah.

Ninguém sabe dizer como Murdoch e sua News Corp sairão dessa crise. Machucados, com certeza. Mas quanto? Ainda é uma incógnita.

O certo é que o episódio mostrou o fracasso espetacular de Murdoch – tão vitorioso na expansão constante de seus negócios mundo afora – em criar uma cultura jornalística sadia, vigorosa, honesta. Se ela existisse, Murdoch não estaria de joelhos como está, aos 80 anos, pedindo desculpas que dificilmente serão aceitas.

A maior lição que este caso oferece às empresas de mídia em todo o mundo é exatamente esta: sem uma cultura sólida de jornalismo, uma hora aparece um tsunami capaz de derrubar tudo, por maiores que sejam os negócios — e os de Murdoch são gigantescos.

Colocar a culpa em Rebekah, como fez a filha de Murdoch, é apenas uma rasteira evasão de responsabilidade.