Seis meses antes do genocídio Yanomami ganhar repercussão internacional, a Organização das Nações Unidas (ONU) mandou um ofício para o governo de Jair Bolsonaro (PL) cobrando a retirada de garimpeiros do território indígena e uma “resposta à crítica situação da saúde e da subnutrição infantil”.
Dezenas de denúncias sobre as más condições enfrentadas pelos indígenas enviadas à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) no último ano da gestão anterior mostram que essa crise humanitária era uma tragédia anunciada.
Um documento ao qual o jornal O Globo teve acesso aponta que, em julho de 2022, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos já classificava o caso dos indígenas de Roraima como uma “grave crise humanitária e de direitos humanos”.
Na ocasião, o comissariado cobrou que o governo Bolsonaro tomasse medidas para conter a crise, como fortalecer equipes interdisciplinares que pudessem ajudar na situação da saúde e da subnutrição infantil, além de solicitar que fossem realizados “ações de desintrusão dos garimpeiros ilegais da terra indígena Yanomami” e estudos sobre os estragos dessa atividade na região.
Dois meses após a manifestação da ONU, o governo ainda não havia tomado qualquer providência, o que fez com que a DPU cobrasse a Funai, que também não informou o que foi feito. Em entrevista à BBC, o alto comissariado Jan Jarab se queixou de não ter os pedidos atendidos e afirmou que, apesar dos alertas, “as medidas tomadas foram claramente insuficientes”.