Operações com mortes provocadas pela polícia não reduzem criminalidade no Rio. Por Eduardo Miranda

Atualizado em 4 de outubro de 2019 às 19:22
A intensificação das operações em favelas no governo de Wilson Witzel (PSC) aumentou o número de mortes provocadas por policiais no Rio / Daniel Ramalho/AFP

Publicado originalmente no site Brasil de Fato

POR EDUARDO MIRANDA

A intensificação das operações policiais em favelas nos últimos nove meses, no governo de Wilson Witzel (PSC), não reduziu o número de crimes e mortes em todo o estado do Rio de Janeiro, segundo dados divulgados em um relatório técnico do Centro de Pesquisas do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ).

Ao compilar dados que vão de janeiro de 2003 a julho de 2019, o Ministério Público verificou que não há nos últimos anos nenhuma relação entre as operações violentas que se tornaram ainda mais frequentes neste ano e a redução de homicídio doloso (quando há intenção de matar) e de crimes patrimoniais (roubos de veículos, roubo de rua ou roubo de carga).

O documento informa, também, que as mortes praticadas por agentes do Estado têm relação direta com a apreensão de fuzis e de drogas. As operações policiais, que já mataram 1.249 pessoas entre janeiro e agosto deste ano, priorizam o enfrentamento ao tráfico de drogas e o combate em favelas “sob a dupla premissa de que nelas estão localizados os criminosos e de que o tráfico de drogas é o principal crime a ser enfrentado pelo Estado”, aponta o relatório.

“No entanto, as evidências internacionais na área de Segurança Pública indicam para maior efetividade de ações preventivas como o patrulhamento de manchas criminais, que prioriza o policiamento ostensivo em áreas onde o crime ocorre”, diz outro trecho do relatório, sinalizando que a prioridade deveria ser o uso da inteligência, e não as ações que vêm vitimando e matando moradores.

Ex-chefe do Estado Maior da Polícia Militar do Rio de Janeiro e pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV/Uerj), Robson Rodrigues critica tanto os confrontos quanto o preço que os agentes pagam para recuperarem armas e drogas.

“É uma política que empurra as polícias para esse confronto sem eficácia comprovada. O estudo ainda aponta efeitos perversos para a polícia e para a população, que é o aumento de mortes nos dois lados. E para apreender fuzis, os policiais às vezes pagam um preço muito caro, que são suas próprias vidas”, analisa Rodrigues.

Desvio

O ex-chefe da Polícia Militar acrescenta, ainda, que quando o governador opta para desviar o trabalho dos agentes, outras áreas ficam descobertas. Ele destaca, no documento do MP, a efetividade de serviços como o patrulhamento preventivo, que reduz os índices de crime contra o patrimônio e as ações de inteligência da polícia.

“Há um aumento desnecessário das operações e um abandono das vocações originárias dessas instituições policiais no estado do Rio de Janeiro, como o patrulhamento preventivo. O estudo mostra correlação entre o aumento desse patrulhamento e a redução de crimes patrimoniais. E quando não se investe em inteligência e investigação policial, o estado deixar de atuar de forma otimizada e reduzir riscos nessas operações. Ao invés de quantidades desnecessárias, elas poderiam ser mais qualificadas”, avalia Rodrigues.