FORA AS EMISSORAS, NÃO HÁ muitas razões para comemorar os 60 anos da televisão brasileira. Não se pode dizer que ela tenha contribuído para a elevação da cultura do brasileiro. Basicamente, o que você vê são novelas e programas de auditório. A maior parte deles são detestáveis, de Gugu a Faustão.
Programas diferentes para melhor foram aos poucos sendo tirados do ar. O último que mereceu ser marcado na agenda, a meu ver, foi Chico e Caetano. Ok, a TV Pirata teve seus momentos. Sobre a qualidade das novelas não vou além de dizer que as falas são fracas, comparadas com as que você vê nas séries americanas, e os sotaques de chorar. O italiano forçado de Nino, o Italianinho, continua a assombrar os espectadores, agora por meio de outros personagens. Que elas façam sucesso internacional é prova de que o drama da qualidade da tevê está longe de ser apenas brasileiro.
A liderança folgada da Globo não é um fator que estimule a qualidade. Qualidade está quase sempre associada a competição.
É uma pena que, quando aparece um concorrente com algum potencial, a receita seja, absurdamente, uma cópia da Globo. Em vez de se inspirar na BBC, a melhor emissora do mundo, a Record imita o líder. É um mistério. Coisas do Brasil. Funciona parcialmente, menos por mérito da Record e mais porque ela acaba sendo a alternativa automática para o espectador que quer tentar alguma coisa nova quando sente mesmice na Globo.
Nas comemorações dos 60 anos, a fala mais interessante que ouvi veio de Antonio Abujamra. Ele tocou num ponto crucial: a estética da miséria que domina a televisão brasileira. No telejornalismo, o domínio da má notícia é avassalador. Nos últimos 16 anos, primeiro com FHC e depois com Lula, o Brasil avançou consideravelmente. Menos que a China, é verdade. Mas com a estabilidade trazida por FHC e não detonada por Lula o Brasil fez sob um e outro mais do que fizera nos 40 anos anteriores.
Mas quem viu o Brasil na tevê não percebeu.