Por Nathalí
Depois de sofrer um verdadeiro linchamento virtual por dizer o óbvio – que comida produzida em impressora 3d não faz bem à saúde (Brasil, 2021), a Chef argentina Paola Carosella voltou a ser assunto no Twitter após mandar um recado claro para os bolsonaristas durante entrevista no canal do Youtube DiaCast.
“É muito difícil se relacionar com quem apoia Bolsonaro por dois motivos: ou é um escroto, ou porque é burro”, disse a chef, e se algum dia eu discordei desta deusa, não me recordo.
Aliás, de sensatez tivesse um rosto, seria o de Carosella, com toda certeza. O modo como ela combate o bolsonarismo – com uma assertividade elegante, coisa rara – inspira.
Mas os bolsominions, claro, se incomodaram tanto com a declaração que subiram no Twitter a tag #VoltaPraArgentinaCozinheira, que aliás me chamou muito mais atenção do que a própria declaração da chef.
Por quê chamar a chef de cozinha mais bem sucedida da atualidade de “cozinheira”? Será que a troca dos nomes não tem nenhum propósito?
O fato é que bolsonarista não gosta de ver mulher em posição de “chef”. É uma afronta para eles. Mulher não pode ser chef, só cozinheira, o que, para eles – coitados – é um lugar menor.
Aposto que Paola ficaria feliz em ser comparada a uma cozinheira, aquelas mulheres cujo talento é passado de geração em geração, e que adicionam bastante ancestralidade ao tempero.
Mas, pra gente vazia que ainda apoia bozo, “cozinheira” é ofensa, e a pessoa que prepara o alimento – uma das coisas mais importantes da vida humana – é um ser menor dentro da sociedade.
Trocar “chef” por “cozinheira” não é só bairrismo contra os argentinos, nem – jamais – um mero acaso, é uma tentativa (mal sucedida) de rebaixar uma mulher competente e respeitada em seu nicho.
A proposta dos bolsonaristas com a tag preconceituosa é um boicote ao restaurante de Paola (risos).
Uma coisa curiosa sobre os bolsonaristas é a mania de boicotar estabelecimentos que já o boicotaram antes. Empresários esquerdistas (sim, isso existe) em geral não fazem questão de ter bolsominions arrotando em suas mesas e defendendo a volta do fascismo – sai pra lá, energia ruim.
E eu os entendo: também não gostaria de entrar na Havan. Mas eles – eles não entendem. A gente precisa, no mínimo, desenhar:
Queridos bolsominions, se a dona do restaurante não faz questão de esconder que os considera burros e/ou escrotos, se falou isso em um podcast, não lhes ocorre que ela não quer a presença de vocês em seus restaurantes? Que não precisa do dinheiro de vocês?
O ego bolsonarista é tão absurdo que eles não entendem quando não são bem-vindos – um tipo de ego que faz com que você passe a vergonha que os bolsominions passam.
Eles são tão burros que não entendem quando estão sendo boicotados, ou tão escrotos que fingem não entender pra saírem por cima.