Há um episódio da série The Office que conta muito sobre o mundo em que vivemos. Os personagens trabalham numa fábrica de papel, sob a liderança desastradamente otimista de Michael. Alguém comenta as baixas vendas de papel. Um outro diz que quando a moda da internet passar tudo vai voltar ao normal.
O mesmo vale para o jornalismo. Quando a moda da internet passar, as coisas serão como antes. Isso quer dizer que o retorno jamais acontecerá. As transformações andarão em ritmo cada vez mais acelerado. Haverá estragos, mas, como disse Robespierre, não se faz revolução sem fazer revolução.
Para fazer barulho no jornalismo investigativo, as redações terão provavelmente que contratar hackers ao estilo de Julian Assange, o editor do Wikileaks, o site que vem infernizando o governo americano com a publicação de documentos secretos das guerras que os Estados Unidos travam no Oriente Médio. Muitos furos deverão vir da invasão de sistemas. Por trás dos hackers estarão, como no Wikileaks, editores investigando a veracidade das informações surrupiadas.
Na Europa e nos Estados Unidos, especula-se que em dez anos a internet dominará completamente a mídia. No Brasil, o processo é mais lento. A classe média emergente tende a consumir, num primeiro momento, jornais, revistas e mesmo livros, não só como fonte de aprendizado mas como símbolo de status. Mas o barateamento dos laptops e o acesso cada vez mais fácil e rápido à internet também abrirão o caminho dos emergentes para o universo digital.
Tem havido no exterior movimentos interessantes neste início de década de 2010. A terceira maior revista semanal americana, a US News and World Report, migrou inteiramente para a internet. A semanal número 2 dos Estados Unidos, a Newsweek, quebrada e sem horizonte, acaba de se fundir com um site inovador, o thedailybeast, dirigido por uma das grandes editoras da era do papel, a inglesa Tina Brown, que teve passagens memoráveis na Vanity Fair e na New Yorker antes de naufragar na Talk.
A mídia tradicional representa a carruagem no momento em que começam a surgir automóveis. A discussão não é se a mídia digital será dominante. Isso é batata. As questões são duas. A primeira é quando isso acontecerá. Dez anos? Mais? Menos? Na Europa e nos Estados Unidos, provavelmente menos. No Brasil, é possível que mais, mas não muito.
A segunda questão é quem vai dominar o jornalismo digital. As grandes marcas da mídia estabelecida terão boas chances desde que aceitem a revolução digital em vez de negá-la. O que não é nada fácil. Os fabricantes de carruagem tardaram a entender que o carro era o futuro. Como no episódio citado da série The Office, achavam que a moda do automóvel passaria.