Os chineses bem sabem que os americanos são capazes de usar a força militar “sem cerimônia”.
No início dos anos 1920, o escritor britânico Bertrand Russell passou alguns meses na China, num ciclo de palestras. Ao voltar ao Reino Unido, Russell escreveu um livro sobre o que viu, chamado “O Problema da China”.
Russell afirmou que a China poderia se tornar o maior país do mundo – desde que se tornasse militarmente mais forte. Naqueles dias, a China era virtualmente ocupada pelas potências ocidentais, depois de ter sofrido sucessivos reveses em guerras no século 19 exatamente por falta de cultura bélica. (No pior deles, nas chamadas Guerras do Ópio, a Inglaterra impôs que os chineses deixassem a droga ser vendida livremente no país. O ópio, produzido na Índia, era a espúria contrapartida que a Inglaterra encontrara para equilibrar seu comércio com a China, de quem consumia chá, seda e porcelana.)
As reflexões de Russell, quase cem anos depois, podem ajudar a entender os movimentos da China moderna. O orçamento militar chinês, por exemplo, comoo a economia do país, tem crescido a uma taxa anual na casa dos dois dígitos.
Dias atrás, num gesto extremamente simbólico, o novo governo chinês disponibizou ao público um videogame chamado Missão Gloriosa. Nele, soldados chineses enfrentam inimigos que falam inglês com sotaque americano.
A China sabe o que faz.
Os Estados Unidos têm frequentemente protestado contra a elevação dos gastos com com defesa chineses, talvez por imaginarem que a China seja como eles mesmos. Mas não poderia haver duas culturas mais diferentes: a americana é a do consumo, da ganância, da ostentação e da dominação exploradora. A chinesa, derivada de Confúcio, é pacífica, centrada na educação dos jovens, respeito aos velhos e lealdade com os amigos.
Os chineses não são beligerantes, historicamente.Mas tolos também não são. Aprenderam com o passado em que sofreram sucessivas agressões.
Veja o que diz num editorial o jornal chinês Global Times, que reflete o pensamento do governo: “Sem uma defesa formidável, os sentimentos irracionais contra a China podem piorar, e se converter em ação. Na condição de maior potência militar, os Estados Unidos colocaram a China no centro de sua estratégia de defesa. A história prova que os Estados Unidos são ávidos por ações militares. Quando os americanos estão confiantes em sua superioridade, eles costumam usar a pressão militar sem nenhuma cerimônia.”
Clap, clap, clap.
Aplausos para a sabedoria chinesa. Quem acredita que o interesse dos Estados Unidos na questão do orçamento militar chinês é a paz acredita em tudo, como disse Wellington.
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