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POR LUIS FELIPE MIGUEL
Na página da Boitempo, há comentários furiosos contra a publicação do livro do Lula (que será lançado em São Paulo na sexta). São minoritários, mas chamam a atenção. Alguns provocadores de direita e outros que se apresentam como sendo a extrema-esquerda. A Boitempo estaria traindo seu compromisso com o marxismo, endossando a conciliação de classes ou mesmo se vendendo ao PT.
Acho difícil entender essa mistura de dogmatismo infantil com ódio irracional contra Lula. A Boitempo sempre publicou autores de um espectro amplo da esquerda – e esse é um de seus méritos. Está publicando Lula como está publicando, por exemplo, Chico de Oliveira, campeão da crítica (pela esquerda) aos governos petistas.
O livro do Lula é um ato político, o ato de dar a voz a um líder político perseguido. Nem por isso é um panfleto partidário. Quando Ivana Jinkings me ligou para pedir que escrevesse o prefácio, deixou claro que eu tinha toda a liberdade para fazer o balanço crítico da experiência lulista, discutir suas limitações, indicar seus equívocos. Também é ilusório pensar que a equipe de entrevistadores, pessoas do quilate de Maria Inês Nassif, Maringoni Gilberto, Juca Kfouri e a própria Ivana, se prestaria a ser mera escada para uma propaganda do ex-presidente.
Porque a questão, afinal, não é ser contra ou a favor de Lula. A questão de fundo é essa: Lula e seu legado devem ser julgados pelo eleitorado. Impedi-lo de concorrer por uma decisão judicial viciada é, uma vez mais, golpear a democracia.
Para a editora, seria fácil se omitir; afinal, ninguém estranharia se o livro não fosse publicado. Ela não despertaria a ira dos golpistas no poder, nem dos pretensos radicais frustrados. Ao decidir publicar o livro, neste momento dramático da vida brasileira, a Boitempo mostra a coragem que se espera de uma editora que é de esquerda não só no seu catálogo, mas também em seus compromissos e valores.