Os conselhos de uma delegada a um ministro do Supremo. Por Moisés Mendes

Atualizado em 19 de junho de 2020 às 17:27
Os conselhos de uma delegada a um ministro do Supremo. Foto: Reprodução/YouTube

Publicado originalmente no blog do autor

Uma notícia esdrúxula circula desde ontem. Trata da tentativa de uma delegada da Polícia Federal de atuar como conselheira política do Supremo.

Uma ala da PF estaria sugerindo ao STF, através da mensagem da policial, o melhor momento de agir em relação às investigações que podem levar aos Bolsonaros.

A delegada é Denisse Dias Rosas Ribeiro. Ela tentou evitar as ações do dia 16 de busca e apreensão em prédios de suspeitos de integrar a gangue das fake news. Seu argumento é o de que haveria “risco desnecessário” e ameaça à estabilidade das instituições.

Denisse enviou os conselhos ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. A servidora se manifestou porque deveria executar os mandados.

Recebeu a ordem no dia 27 de maio e no dia 4 de junho enviou suas argumentações a Moraes. Há desculpas técnicas na manifestação da delegada, como a de que é preciso antes preencher “diversas lacunas” da investigação.

Mas o que prevalece é o tom de conselheira. Pode um delegado da PF dizer a um ministro do Supremo qual o melhor momento para realização de uma operação, considerando fatores pretensamente políticos objetivos ou subjetivos?

Não pode. Um policial analisa as circunstâncias, considerando fatores diversos, para que suas ações sejam bem sucedidas.

Mas não pode ter a pretensão de fazer interpretações de conjuntura política para orientar as decisões de um ministro do Supremo. Não precisa ser jurista para saber que é no mínimo inconveniente e desrespeitoso.

A ‘orientação’ da delegada talvez esteja dentro do previsto nas condutas da nova direção da PF. Foi mais do que uma atitude amadora.

A policial teria atrasado a execução de ações contra a turma de aliados de Bolsonaro, tanto que a Procuradoria-Geral da República pediu seu afastamento do caso.

A atitude se soma a outras ruins para a imagem da PF, depois das denúncias de Sergio Moro sobre as tentativas de conluio de Bolsonaro com gente da instituição. Expõe despreparo, falta de comando e barbeiragem grosseira. Em nome do quê? A PF deve saber.

No link abaixo, um vídeo com uma palestra da delegada.