Os degenerados que queimaram a “bruxa” Judith Butler nos atiraram de vez na Idade Média. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 7 de novembro de 2017 às 14:20

 

Se alguém tinha alguma dúvida de que regredimos à Idade Média, basta ver a boneca de Judith Butler sendo queimada na frente do Sesc Pompeia.

Dezenas de cidadãos de bem resolveram nos transportar para o século 13 e reencenar os espetáculos macabros em que mulheres eram atiradas à fogueira como bruxas.

É resultado de uma campanha incessante de ignorância e manipulação capitaneada por gente como Marco Feliciano, a Escola Sem Partido, o MBL, Alexandre Frota.

Os mesmos batedores de panela que gritavam contra a corrupção e instalaram uma canalhocracia no poder agora se preocupam com a palestra de uma filósofa perto de cujos livros jamais chegaram.

Butler, segundo essa matilha, é a profeta da ideologia de gênero, coisa que não entendem mas, segundo o pastor lhes garantiu, vai destruir a família numa sacanagem sem limites.

Em entrevista à Carta Capital, Judith falou que o ataque a ela e ao que ela prega “emerge do medo a respeito de mudanças”.

É isso. O boçal na multidão não vai mudar o fato de que o filho querido do papai talvez seja gay, a filha possa gostar de meninas, ambos eventualmente gostem de garotos e garotas comunistas — mas essa veadagem se combate com cura gay, porrada, Jesus, tiro na cara.

No meio deles há corruptos, pedófilos, homossexuais no armário e fora dele — e, sobretudo, burros. 

O que os incomoda, perturba, causa repulsa e os faz babar de cólera são reflexos de sua sombra.

Já temos ataques a centros de umbanda e candomblé, alguns deles realizados por traficantes evangélicos. Temos gays sendo mortos. Temos condenações sem provas. Temos censura à arte.

O que faltava para chegarmos ao medievalismo moleque, brejeiro, moreno, cheio de molejo? Nada. Bolsonaro é o sujeito que veio para legitimar esse brasileiro retrógrado, doente, cheio de ódio, e que veio para ficar.

O Brasil fornece aulas dolorosas diárias de algo que não achávamos necessário saber ou ser lembrados: quanto mais a história muda, mais ela continua a mesma. A Inquisição está ali na esquina e o próximo a ser queimado é você.