Publicado no Tijolaço
É uma regra: quando você descentraliza compras, em geral, diminui a possibilidade de desvios (e outras, como as de transporte e armazenamento).
Exceto em um caso: quando a compra é descentralizada, mas o fornecedor continua mono ou oligopolizado.
É exatamente isso o que ameaça acontecer neste caso, noticiado pelos jornais, de secretários de Saúde dos estados “irem à luta” para comprar vacinas de qualquer um que as esteja oferecendo no mundo, porque que o oferece são algumas poucas grandes indústrias farmacêuticas.
As diferenças de preço não são apenas significativas, são estratosféricas, alcançando a casa de até 20 vezes mais por dose de imunizantes que prometem, basicamente, a mesma eficácia.
O jogo foi evidente, quase pornográfico.
Há seis dias, noticiava O Globo, a Pfizer dá uma semana para Brasil fechar acordo por vacina da Covid-19. O preço é o mais salgado de todos, junto com o da Moderna: sairá entre 70 e 100 reais a dose (sem transferência de tecnologia), não contando os gastos de montar uma cadeia de frio de -70° C, tanto mais complexa quanto for a abrangência da vacinação: se restrita a pessoal de saúde, a metrópoles ou espalhada pelo inteiro remoto.
Com a pressão colocada pelo anúncio da vacinação em São Paulo ( em torno de 10 reais por dose), o Governo Federal resolveu sair da dependência exclusiva da vacina Astrazêneca-Oxford (entre 15 e 20 reais por dose, com licença de fabricação local) e aceitar a pressão da Pfeizer.
Hoje, o Ministério da Saúde, cumprindo o prazo, diz que a compra de 70 milhões de does está praticamente acertada.
Mas, com o atraso do cronograma de vacinação e o início das imunizações em outros países, ainda que feche negócio com a empresa americana, vai “perder o bonde” dos lotes iniciais de produção.
Está uma correria atrás de vacinas no mercado mundial e os estados brasileiros, por todos os motivos, estão fazendo contatos paralelos com qualquer um que as esteja oferecendo.
Já vimos este filme no início da pandemia com os respiradores e haverá governantes capazes de pagar o que for (e, claro “como for”) para não sofrer o desgaste político de ficar para trás na vacinação.
É na confusão que reina a corrupção.