Publicado originalmente no blog do autor
Por Moisés Mendes
Os militares sempre temeram as ameaças do comunismo e de todo tipo de ‘subversão’ ao que achavam e acham politicamente aceitável.
A submissão à paz e à ordem foi argumento para todos os desatinos cometidos durante a ditadura. É tudo que não temos hoje.
Em novo estágio do blefe do golpe, Bolsonaro desrespeita os estatutos que devem ser obedecidos pelos militares e impõe a desordem como método.
Tudo para provocar os chefes militares, como comandante supremo das Forças Armadas, e criar o ambiente para um governo com poderes absolutos.
Os comandantes nunca devem ter imaginado que um general e o seu chefe, um tenente com carreira vergonhosa no Exército, fariam mais estragos nas Forças Armadas do que os subversivos perseguidos durante a ditadura.
Bolsonaro e Pazuello são hoje a grande ameaça à coesão, à disciplina e à hierarquia nas Forças Armadas.
Bolsonaro usa Pazuello e os motoqueiros militarizados para desafiar os novos chefes militares, como já tentou usar (e fracassou) os demitidos comandantes das três armas e o ministro da Defesa.
A novidade agora é que Hamilton Mourão entrou com força muito além da habitual no caso Pazuello.
Ao sugerir a punição do general, insinuando até que o ex-ministro da cloroquina vá para a reserva, Mourão acaba desafiando o poder de Bolsonaro.
O passeio de Pazuello e Bolsonaro no Rio poderia ter ficado apenas como um deboche dirigido à CPI. Mas, num país sob normalidade, seria muito mais do que isso.
Seria uma ofensa grave aos colegas generais e às Forças Armadas. Mas só num país sob normalidade.
As Forças Armadas têm a chance de provar que as instituições fardadas continuam funcionando, sem medo da extrema direita, e que há ordem e normalidade.
A outra alternativa é mais do mesmo, ou seja, deixar que passem o pano, assim como deixam que passe a boiada.